O preço da delação

Artur Leite, jornalista e professor
Hoje em Dia - Belo Horizonte
21/06/2017 às 18:01.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:11

A onda das delações está em alta e a sua abusiva frequência tem questionamentos dos juristas mais renomados do Brasil. Aqui mesmo, em Montes Claros, aproveitei para conversar com muitos deles e as opiniões se divergem, ou seja, enquanto alguns elogiam e acham que se fossem as mesmas, a Operação Lava Jato não existiria. Outros argumentam que as mesmas estão virando “arroz de festa” e perdem a sua importância jurídica, pois pode acontecer de muitos que estão optando por ela, somente o fazem para fugir da cadeia e terem penas diminuídas. Mas, longe de querer dar uma opinião definitiva sobre o assunto, eu tenho certeza em meu curto conhecimento sobre a área, que muitos pagarão caro pelo fato deterem delatado àqueles que há pouco tempo estavam em seus círculos de propinas.

Chama a atenção pelos ventos que sopram de Brasília a confirmação de que os irmãos Batistas já começam a sentir o preço de tudo que provocaram em nossa política econômica e moral. “Apesar de a JBS ser uma potência, especialistas não descartam a possibilidade de o grupo controlado pela família Batista quebrar. A tendência é de os credores do grupo pressionarem os controladores a se desfazerem das empresas antes que elas acabem recorrendo à recuperação judicial”.
A imagem do grupo JBS vai de mal a pior. No entender dos especialistas, não há mais como os irmãos Joesley e Wesley Batista continuarem no comando da gestão das empresas que têm como holding a J&F. Eles se tornaram sinônimos de corrupção. Qualquer negócio que venha a ser fechado com eles estará sob suspeição.

Parte do grupo JBS já está à venda. A fabricante de celulose Eldorado, alvo da Operação Lava Jato, está sendo negociada com um grupo chileno - e a brasileira Fibria também. A Alpargatas, que detém as marca Havaianas e Osklen, também está à venda, assim como a fabricante de laticínios Vigor. Nesta terça-feira 20, logo pela manhã, a JBS comunicou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que está se desfazendo de ativos que somam R$ 6 bilhões para engordar o caixa.

A desconfiança em relação ao futuro do grupo dos irmãos Batista é tão grande que o valor de mercado da JBS caiu à metade nos últimos três meses. Saiu de R$ 32,7 bilhões para R$ 17,3 bilhões. Além da Operação Carne Fraca, a companhia foi afetada pelas investigações conduzidas pela Polícia Federal e pelas delações de Joesley.

Na visão dos especialistas, o grupo JBS passou a ser visto pela opinião pública como uma organização criminosa. Foi a mesma visão que passou a prevalecer em relação à construtora Odebrecht, que está evaporando, com sérios problemas de caixa.
Somente a mudança de nome, na avaliação dos especialistas, não garante sobrevivência a empresas tão associadas à corrupção. A sociedade está cada vez mais intolerante a negócios que envolvam malfeitos. Como não há perspectiva de o grupo JBS e os irmãos Batista saírem tão cedo do noticiário negativo, a imagem do maior produtor de proteínas animais do mundo tende a ruir.

Outro fator que leva os analistas a preverem um futuro sombrio para o grupo JBS é a perseguição que as empresas sofrerão do governo de Michel Temer, acusado por Joesley de ser “o chefe da mais perigosa organização criminosa do país”. Os bancos que detêm créditos com o grupo JBS já começaram a lançar parte dos empréstimos como liquidação duvidosa. Ou seja, de difícil recebimento. Por enquanto, é mais uma ação preventiva, dizem as instituições financeiras. O Itaú Unibanco é a instituição que mais tem cobrado informações dos irmãos Batista.

O preço vai ser muito caro para todos eles. Podem anotar!

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por