O jogo não acaba aqui

Wendell Lessa
wendell_lessa@yahoo.com.br
05/08/2021 às 00:56.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:36

Clóvis de Barros Filho revelou, há duas semanas, em um programa de rádio, a existência de um tumor atrás da retina de seu olho esquerdo. Praticamente cego do olho direito, como consequência de outro problema, ele tem grandes chances de não enxergar pelo olho esquerdo. Na entrevista, emocionado, o professor revelou que reconheceu, no momento em que foi informado pela médica sobre sua condição, de que lhe restava pouco tempo para ver os rostos de seus filhos e contemplar o pôr de sol. O seu tempo de ver pelos olhos estava se esgotando.

Entretanto, sobre se continuaria ou não ministrando suas palestras e transmitindo seu conhecimento, Barros Filho disse que, para ensinar, ele não precisaria dos olhos, porque não se fala com os olhos. Há muitas outras maneiras de se ler as coisas e de transmiti-las. Além disso, diante de um prognóstico tão negativo para alguns e, talvez, motivador de desistência, ele afirmou, com coragem, que a vida não pode acabar quando se descobre um problema como esse, simplesmente porque a fé faz com que entendamos que “o jogo não acaba aqui”.

O escritor bíblico, na carta aos Hebreus, definiu a fé perseverante usando duas frases que têm o mesmo sentido: certeza do que se espera e convicção de fatos que não são vistos. “Ela é a certeza de coisas que se esperam e a convicção de fatos que não se veem”. Ora, se nós estamos esperando, é porque ainda não temos em nossas mãos aquilo que tanto desejamos. Estamos à espera. 

Um noivo que espera no altar a chegada da noiva. Ele sabe que ela virá, mas não a viu ainda. Fé não é uma crença em algo desconhecido, mas é crer no invisível. O prêmio existe, mas você não o está vendo ainda. Mas ele está lá. Como o sol que, às vezes, está encoberto pelas nuvens. Você não o vê, mas sabe que ele está lá. Você sente o seu calor, sua intensidade e seu brilho, mas pode admitir a certeza de que ele surgirá entre as nuvens com o seu esplendor. 

A fé contempla, vê, percebe coisas invisíveis. Ela caminha para além do caminho. A fé não é algo irracional ou irreal: “nós entendemos”, diz o escritor.

Existe convicção de fatos reais. A fé é a certeza, a convicção clara, de coisas que existem, mas que ainda não podem ser vistas por nós. Não é o “salto existencial” no escuro, como defendeu Sören Kierkegaard, como fruto quase de irracionalidade e imprudência, mas, ao contrário, é a certeza de que aquilo que Deus disse que seria, definitivamente será. 

A fé perseverante não confia em seus próprios méritos ou recursos. O fiel olha com certeza para o Deus invisível, mas real, e confia, plenamente, em suas palavras, porque sabe, por si mesmo, e pelo testemunho de tantos outros, que a fidelidade dele é verdadeira, inquestionável e perceptível em cada detalhe da existência do universo: “pois, pela fé, os antigos obtiveram bom testemunho” (Hebreus 11.2). A fé crê que “o jogo não acaba aqui”.

  

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