O Café Galo

Petrônio Braz
09/06/2017 às 08:57.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:00

Nos subúrbios de Paris e nas áreas próximas aos “arrondissements” centrais, especialmente em Neuilly, Boulogne ou Levallois, existem os conhecidos cafés.
O hábito de tomar café, na Europa, sempre esteve associado aos encontros sociais e culturais. Em Veneza, esses encontros ocorriam nos Bottegle Del Café e ainda ocorrem nos tempos atuais, sendo famoso o Café Florian.

Em Paris, é muito conhecido o Café Procope, onde os intelectuais se reúnem, durante as tardes, para declamarem poesias, ler livros e jornais ou simplesmente para passar o tempo.

No Brasil, ficou famosa a Rua do Ouvidor, que Joaquim Manoel de Macedo classificou como “a mais passeada e concorrida, e mais leviana, indiscreta, bisbilhoteira, esbanjadora, fútil, noveleira, poliglota e enciclopédica de todas as ruas da cidade do Rio de Janeiro”.

Principalmente poliglota e enciclopédica, a Rua do Ouvidor era o ponto de encontro dos intelectuais da capital do Império e, posteriormente, da República. Por ela passavam ou nela permaneciam, não apenas fidalgos libertinos, mas principalmente intelectuais. Os primeiros republicanos por ela passaram e nela discutiram os ideais revolucionários. Fizeram história.

Montes Claros, a capital do Norte de Minas, também possui a sua via pública passeada e concorrida, leviana e indiscreta, bisbilhoteira e esbanjadora, fútil e noveleira, poliglota e enciclopédica: o Quarteirão do Povo.

São famosos o Café Procope em Paris e o Café Florian em Veneza, todavia, não menos famoso e conhecido é o Café Galo, em Montes Claros, situado exatamente no centro do Quarteirão do Povo.

O Café Galo é o ponto de encontro dos políticos, profissionais liberais, jornalistas e aposentados, principalmente no correr do meio dia e nos finais de tarde. Pessoas que venceram na vida e, por esta razão, podem dar-se à ostentação de verem passar o tempo. Uma plêiade de profissionais liberais, jornalistas, escritores e professores, que se deleitam em discutir o indiscutível. E uma parcela considerável de aposentados, que se deliciam em ver desfilar as beldades da cidade.

Os primeiros são pessoas ativas, afirmadas na vida, de formação superior, graduados e pós-graduados, que podem se dar ao fausto de se reunir para os deleites maiores da intelectualidade, e os outros, não menos importantes, são criaturas que já desenvolveram, no devido tempo, as mais variadas atividades produtivas e, agora, podem, por direito, desfrutar, despreocupados, os prazeres da ociosidade.

Há, em todas as vias públicas, indiscretos bisbilhoteiros, fúteis observadores que passam e, desconhecendo a magnitude e os valores dos que ali são frequentes, por não possuírem os atributos filosóficos da reflexão, da elevação do espírito acima da materialidade da vida, ou por serem desprovidos do respeito à veneranda condição da aposentadoria, ficam a meditar a distância, sem atributos para se aproximarem, considerando os cultores da intelectualidade como desocupados, e os aposentados como vagabundos.

*Escritor

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