Trabalho e risco

09/03/2021 às 00:02.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:21

Sorte nossa possuirmos renda para com ela comermos, bebermos, termos água para a grande lavação de mãos, luz acesa no teto, internet na ponta dos dedos, transporte disponível, mas precisamos saber que tudo é fruto do trabalho de alguém que se arrisca a pegar Covid a troco do pão de cada dia. 

Na pandemia, é habitual pedirmos algo pelo telefone para o recebermos na porta de casa. Quanto ao alimento vegetal, alguém cultivou, colheu, transportou, distribuiu, e, enfim, fez chegar ao consumidor. Em muitas dessas etapas o serviço foi feito de máscara e com risco de contágio pelo coronavírus. 

A roda social gira e todas as peças são importantes nessa engrenagem. Apesar de as remunerações serem diferentes, mais baixas para quem faz o trabalho pesado e mais alta para quem é chefe, todos os ingredientes têm relevância no resultado, que algumas vezes é um prodígio. 

Alguns precisam acompanhar o nascimento e outros a morte, e depois, mais outros farão o sepultamento ou a cremação. As equipes de coveiros e de saúde são as mais sacrificadas, e, estafadas, mal conseguem trabalhar bem.

A ameaça é demasiado grande, e o perigo cresce com o tempo de contato com doentes e mortos pelo coronavírus. 

Os profissionais têm tamanho grau de proximidade com o SARS-Cov 2, que, mesmo vacinados e paramentados, podem contrair a doença em seus trabalhos. Por sua vez, os garis levam nosso lixo contaminado. Sentimos alívio ao nos certificar que estão trabalhando. 

O mundo parou, mas as necessidades humanas continuam, daí o trabalhador seguir em sua faina, mesmo cansado, triste e com medo. 

Todos nós estamos ameaçados, até quem não se sinta assim, porque, com o agravamento da questão sanitária, a cada minuto cai um combatente no Brasil. 

Evitemos a estocagem irresponsável de alimentos, que é a mãe do desabastecimento, principalmente em lockdown. Perdemos a liberdade, mas agradeçamos o milagre sobre a mesa e lembremo-nos dos que estão sem renda e das suas mesas vazias.

Reverenciemos cada um que fez seu trabalho dignamente. Pensemos e respeitemos os que foram operosos para podermos viver e comer. 

Para haver afinação na orquestra é preciso um maestro e, não o tendo, o desamparo humano comove e a morte solitária será ainda mais triste.

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