Os miseráveis estão de volta

22/06/2021 às 00:00.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:13

Não há nada bonito nem na pobreza nem na fome. Erradicadas do país há alguns anos, voltaram com a pandemia, numa forma mais cruel do que antes, trazendo em sua esteira a miserabilidade dolorida. Discursos não matam fome, nem mesmo graves denúncias nos jornais. O que altera o quadro de pobreza que se alastra em território nacional são atitudes cristãs, solidárias, humanísticas e políticas públicas de cunho social.

Podem-se montar grupos de apoio e eles serão bem-vindos, mas ações de clubes de serviço ou de particulares, mesmo úteis, deveriam ser restritas a tragédias agudas e de grandes proporções como desastres naturais ou não, e ações a médio e longo prazo, com prevenção à falta de alimento e teto cabem aos governos. Para esse fim, a população paga altos impostos e ainda precisa suprir suas necessidades básicas.

Vemos o retorno dos miseráveis, não apenas perambulando pela cidade de poucas almas pelos caminhos, mas em todos os lugares reais e virtuais. Tão tristes ao vivo (quase mortos), estão também nas telas dos celulares protagonizando vários deboches à sua miséria, feiura ou pobreza de espírito. Os vídeos mostram os muito pobres, para mera zombaria, em situações vexatórias, com falta de dentes, bêbados, cantando desafinados, ou pensando estar cantando em Inglês, quando, na verdade, falam palavras inventadas, grafadas na tela. Os idosos são ridicularizados, em especial as mulheres velhas. Nem mesmo as crianças se salvam em sua inocência, colocadas em situações de pouco caso e falta de compromisso com suas ingenuidades. Irresponsavelmente, tentam fazer graça com suas imagens de pessoas sem recursos.

Não são nada estéticas as fotografias do cotidiano de ranchos na zona rural, palafitas, comunidades, casebres desabando, pobreza extrema em lixões, moradores de rua, crianças com frio, abraçadas aos seus cachorros, seres famintos disputando restos com urubus, coisas que, ultimamente haviam deixado o Brasil, mas estão de volta às nossas ruas e às nossas telas. 

Quanto ao meu aparente mau-humor, digo que é sensibilidade à flor dos ossos, carne e pele. O senso crítico e a indignação precisam voltar o quanto antes. A miséria não tem graça, e as ações governamentais são esperadas para anteontem.

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