O estigma da loucura

18/01/2022 às 00:15.
Atualizado em 21/01/2022 às 12:15

O estigma caracteriza uma doença ou condição. As síndromes apresentam sinais típicos para o diagnóstico, sendo “figura de livro”. Essa expressão vem dos manuais de Semiologia – sinais e sintomas das doenças – que apresentam fotografias de casos típicos.

Na Síndrome de Cushing, o excesso do hormônio cortisol da suprarrenal causa face vermelha e redonda, obesidade central, estrias violáceas e corcova de búfalo. Quem a viu uma vez está apto a reconhecer todas, exceto no começo, quando os sinais são sutis.

As doenças ameaçadoras e sem tratamento eficaz estigmatizam o portador. É inaceitável usar a deprimente “leproso”, abandonada por ser o que é. Ao que acha que mudar palavras nada altera, sinta-as na pele e reflita.

No Aurélio: estigma é marca, sinal, cicatriz; sinal infamante; marca vergonhosa; sinal natural do corpo; as cinco chagas de Cristo.

A loucura era escondida das vistas públicas, quando a psiquiatria ainda não era uma ciência. Usavam-se portas, correntes e mistério para ocultar ataques de insanidade. O estado de loucura foi estigmatizado e a doença mental causava vergonha porque a sociedade preferia não a ver.

O tratamento era precário, assim os manicômios recebiam moradores eternos. Na visão atual, eram chocantes depósitos humanos. 

As pessoas com deficiência intelectual ou convulsões ou graves alterações comportamentais eram encaminhadas ao cruel aprisionamento.

Quando a sedação total e o eletrochoque deram lugar a medicamentos úteis à organização mental, a pessoa passou a ser resgatada, porque antes a loucura era uma condição de ausência permanente da razão.

A evolução da farmacologia trouxe milhões de pessoas para uma vida plena. Designar alguém como louco para ofendê-lo perdeu o sentido, em especial agora, quando há epidemia mental e necessidade geral de assistência.

Quando um cliente tinha sintomas comportamentais, eu sugeria a ele que marcasse consulta com um psiquiatra. “Mas eu não estou louco!”. Sei que não, mas vá para evitar que fique.

Em 40 anos de medicina combati o preconceito à loucura, aos loucos e aos psiquiatras, falando e escrevendo sobre o tema. Os tratamentos exitosos proporcionaram naturalidade para visitar esse tipo de médico.

Conhece alguma família sem um portador de problema mental? Não conheço nenhuma.

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