Coragem ou valentia?

06/04/2021 às 00:31.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:37

Minha irmã Carla Narciso, dentista, nutricionista e coronel da PM mudou-se para Costa de Caparica, a 17 km de Lisboa, Portugal. No Facebook, seus amigos assustam-se com sua coragem de atravessar o Atlântico, passando por Zurique, Paris e chegar sozinha a Lisboa, à meia-noite, com três malas, após viajar de máscara por 36 horas.

Fronteiras fechadas ao Brasil por voo direto, pandemia e lockdown lá e cá, Carla, influenciadora digital para vida saudável, ginástica e alimentação, conseguiu. Obrigações de trabalho impedem seu marido de viajar de imediato.

Para a questão dos amigos, ela diz: “Nós mulheres precisamos sair dessas crenças limitantes de que não podemos isso ou aquilo”. 

No site Unimontes, sob uma foto da nossa mãe, Milena Narciso, formando-se em Medicina em 1974, sonho de 1952, quando o pai dela não a deixou estudar em Belo Horizonte, Carla decreta: “Meu grande exemplo de determinação”.

Em 1968, 15 anos após findar o científico, Milena soube da vontade dos médicos Mário Ribeiro e João Vale Maurício de criar a Faculdade de Medicina do Norte de Minas. Bonita, inteligente, casada e com filhos de 5, 13 e 14 anos, fez cursinho noturno no Colégio São José. 

Após um ano de estudos, mulher de fibra, passou no vestibular na primeira turma, com Christina Peres e mais 38 colegas homens. 

Dedicou-se ao máximo, formando-se aos 40 anos, em primeiro lugar, recebendo o Prêmio Carlos Chagas. Fez especialização em Belo Horizonte na área de ginecologia e obstetrícia, trabalhando no ramo por 28 anos na Santa Casa de Montes Claros. Nascida em 11 de maio de 1934, morreu no dia 28 de janeiro de 2003, de câncer no cérebro, que a venceu em 32 dias.

A manifestação de audácia, coragem e valentia da nossa mãe avaliada pela sociedade repressora à mulher de 53 anos atrás, poderá ser aquilatada hoje. Mulheres desbravadoras, como Milena foi, possibilitaram que outras a seguissem. Dá para imaginar os obstáculos sociais e profissionais criados pelo patriarcado. 

Sortudos somos nós, pela mãe que tivemos, porque depois de imenso intervalo, não se intimidou com os jovens concorrentes. No curso, ultrapassou a todos, cumpriu seu destino, mudou sua vida, a dos seus filhos e das mulheres que atendeu. A ela, nossa reverência!

  

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