Não havia nome para o que eu fazia, mas, em 2004, comecei meu ativismo materno em prol do meu filho hiperativo. Escrevi “Segurando a Hiperatividade”, no qual conto a história de Fernando Narciso Silveira, designer gráfico que trabalha com projetos de prevenção de incêndios, e tem 37 anos. Esgotado e em processo de revisão para ser lançado digitalmente, o livro contém cem crônicas em ordem cronológica, e, de médica, me transformou em escritora. Então, vieram estudos, palestras e militância no Orkut, e, depois, no Facebook, de forma mais pontual.
Nele divulgo o TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, um diagnóstico feito aos 4 anos. Quando o psiquiatra Marcelo Ferreira leu o livro, foi-lhe acrescentada a Síndrome de Asperger – autismo leve, aos 21 anos.
Ao contrário dos que têm transtorno de comportamento e fogem de psiquiatras e diagnósticos, ocultando o nome da doença, falo sobre a dificuldade naturalmente, de forma a torná-la melhor aceita. O conhecimento torna mais leve qualquer problema de saúde. Hoje, é comum falar que se tem câncer, mas saber era proibido, porque quase não havia tratamento eficaz. Chamado de “doença ruim”, os cochichos despertavam insegurança nos doentes.
Falar sobre o autismo, uma maneira peculiar de funcionamento cerebral, reduz o preconceito. Ao escrever sobre as dificuldades e os avanços conseguidos com o tratamento, contribuo para a inclusão e socialização de crianças e adultos incompreendidos e rejeitados.
Muita coisa mudou, desde então. Conversei com mães, indicando profissionais e orientando. Em breve, o passado estará de volta com a reedição digital de “Segurando a Hiperatividade” em e-book, um conteúdo que julgo precioso, em cujo final foi adicionada uma atualização dos fatos.
Retorno firme ao tema, assim como ao ativismo digital. Quem escreve se expõe, mas também modifica a própria realidade e a dos outros. A informação a tudo transforma e, em especial, reduz a discriminação. Experiência de mãe é ensinamento de valor, porque a vivência alheia serve para todos. Ensino e aprendo quando participo de grupos ou falo com pessoas que têm a mesma incompatibilidade. A internet é essa estrada larga e comprida. Devemos aproveitar toda a viagem.