Aperto de mão

17/03/2020 às 02:29.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:58

Na década de 1970, o namoro começava quando o rapaz dava a senha: segurava a mão da moça e caminhavam juntos pelas ruas. Isso também poderia acontecer no escurinho do cinema depois de longa troca de olhares. O rapaz flertava com a moça e, se correspondido, criava coragem, sentava-se na poltrona ao lado e, mais tarde, caso a situação fosse favorável, procurava a mão dela. O gesto envolvia emoção e uma corrente elétrica percorria o corpo de ambos.

Oferecer a mão é ajudar, é um ato que confirma a amizade. “Quem quiser ter um amigo, que me dê a mão”. Dar uma mãozinha é ajudar no trabalho. Outras expressões envolvem essa palavra: mão de vaca é a sovina, mão leve é a que rouba, mão boba é a que ousa.

Cada povo tem sua maneira de cumprimentar. Os esquimós esfregam os narizes; os camaradas da antiga União Soviética se beijavam na boca, num gesto forte, à maneira de um esbarrão de lábios. Russos trocam apertos de mão e beijam a mão das mulheres. Os japoneses dobram o corpo para frente, um diante do outro, executando a reverência oriental – ojigi. Entre os ocidentais, o mais comum é o aperto de mãos – shake hands –, obrigatório nos acordos de paz. Aquilo é gesto político, com toneladas de intenções, mas, a união de mãos irreconciliáveis serão apenas fotos.

Abraços e beijos são manifestações de afeto que costumam acontecer entre pessoas que se conhecem, porém, desconhecidos afetuosos chegam abraçando e beijando todo mundo. Estrangeiros estranham esse costume brasileiro, especialmente os três beijinhos no rosto, sendo “o terceiro para casar”.

Com a catástrofe do coronavírus, a Organização Mundial de Saúde pede para evitar aglomerações, lugares fechados, proximidade corporal menor que um metro, abraços, beijos e apertos de mãos. Achamos estranho cumprimentar de longe, sorrindo ou abanando o pescoço ou a mão, por serem gestos impessoais. Mesmo explicando, a não concretização do gesto de apertar as mãos machuca e constrange, simulando uma arrogante negativa de contato físico. Diante do constrangimento, contrariados por evitar o comportamento habitual, nos deparamos com um braço esticado no ar e uma mão no vácuo. É horrível, sendo preciso explicar: peço desculpas, mas hoje, será sem aperto de mãos.

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