Aniversário e morte na pandemia

02/06/2020 às 00:26.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:39

Vamos começar pela parte pior. A morte acontece por asfixia. A pessoa está em isolamento e longe dos entes queridos. Vídeos mostram os momentos finais, de gente de todas as idades, inclusive caindo na rua e dando seus últimos suspiros. Eu não consigo ver, mas há os mórbidos que multiplicam essas cenas dramáticas. A Covid-19 é perversa, e vai passando por cima da população como um trator. A morte é indesejada, exceto quando alivia dores lancinantes. 

As pessoas continuam morrendo das outras causas, mas o coronavírus tem matado, há dias, cerca de mil pessoas a cada 24 horas. Caso haja erro nos números, é para menos, pois a testagem em massa, recomendada pela Organização Mundial de Saúde, não está sendo feita. As mortes em domicílio, por insuficiência respiratória, aumentaram, mostrando que há subnotificação. 

A Rádio Itatiaia noticiou o caso de uma idosa de 90 anos que fora internada em Belo Horizonte com quadro de “pneumonia” e faleceu. A funerária foi contratada para colocá-la numa urna lacrada, porém com visor, para a família fazer a despedida. Chegou com a tampa fechada. Os familiares queriam ter certeza de que era ela mesma. Depois de muita insistência, abriram o caixão. A senhora estava nua, apenas de fralda geriátrica, suja como morreu, envolta em um saco plástico e nada mais. A imagem tétrica da morte ficou ainda mais terrível, pois, agora e de longe, quatro familiares podem observar os coveiros, vestidos de astronautas, sepultarem quem amam. 

Descobrimos como éramos loucos de comer bolo de aniversário após o aniversariante soprar diversas vezes para apagar a vela. Quantos perdigotos foram disseminados? Uma família de quatro irmãos participou de um aniversário reservado, e todos morreram de Covid-19 após comerem o bolo com a vela soprada por um deles. A alternativa criada é o aniversário a distância, seja totalmente virtual, via chamada de vídeo, ou uma festa na porta da casa, com pessoas mascaradas. Os amigos cantam os parabéns, entregam o “aniversário inbox” e vão embora. Quando a pandemia se arrefecer, e ninguém tem ideia de quando ocorrerá, será criada outra normalidade. A que conhecíamos não voltará, com festas de aniversário, velórios e missas de sétimo dia.

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