A Casa

25/01/2022 às 00:04.
Atualizado em 26/01/2022 às 00:13

Jesus Cristo disse: “Pedro tu és pedra e sobre ti edificarei a minha Igreja”. Ele não quer dizer a construção da igreja e sim as pessoas cristãs, suas crenças e todo o significado dessa fé, para muito além das pedras, tijolos e telhados, como casa, uma palavra que aqui significa conteúdo e representação social.

Quando morre uma pessoa querida perde-se muito e se morre um pouco. Chora-se diante do “nunca mais” e, dependendo do morto, é imperioso o luto, no qual, cada um em seu ritmo, vai habituando-se a realidade do “para sempre”.

Em geral, a perda mais devastadora é a de um filho; é raro, mas possível haver mãe que mais lamente a passagem do marido que a do filho.

Houve uma época em que as viúvas se vestiam de preto e nunca mais sorriam, enquanto os viúvos desse mesmo tempo se casavam com a cunhada num ajeito familiar até comum, em especial quando havia filhos pequenos.

A morte, mesmo de anciãos, é um susto, e os remanescentes, no começo, podem pensar no morto como se estivesse vivo, e costumam cair em si ao pensar contar algo ao finado. Além da lacuna pessoal há a perda do convívio e das visitas à casa daquele que partiu. Não é raro o desfazimento da moradia com venda do imóvel, em especial quando quem morreu era o último daquele lugar.

As vivências e os sentimentos reinantes naquela residência são bem mais do que as paredes e as lembranças. É muito forte o significado da presença, os modos e o acolhimento dado por quem partiu. A cada perda, uma casa se vai. O lugar e a pessoa que foram ponto de encontro, de compartilhamento, de experiências, de memórias, de trocas afetivas disfarçadas de café com bolo tornam-se vácuos dolorosos.

A pessoa some das vistas dos restantes. Há o que a sociedade chama de desaparecimento. Além do sumiço da pessoa que ninguém mais verá, há a perda da existência de alguém caro a cada um. A ausência é real, mas enquanto existir quem tenha sua lembrança permanecerá vivo.

Ao se passar na frente daquele lugar se sente um baque estranho, um misto de dor e de saudade, que com o passar dos anos vira um vazio suave. Viver, em especial vidas longas é um perder permanente. Algumas vezes se questiona o motivo do amor à vida. Chega um momento em que não há mais nada para se privar, porque quase todos se foram, eternamente.

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