Vapor Benjamim Guimarães - Parte 1

10/09/2021 às 00:02.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:51

A cidade norte-mineira de Pirapora tem muito orgulho de ter um nome ligado às águas – “Salto do Peixe”. Quando o vapor que habita as margens do rio São Francisco, em seu espaço territorial, foi tombado como patrimônio histórico, se tornou ainda mais envaidecida pela ligação. O vapor, conhecido pelo nome de Benjamim Guimarães, foi construído em Mississipi, nos Estados Unidos, em 1913, pelo estaleiro James Rees & Com. 

Essa embarcação, que sem carga pode pesar em torno de 243 toneladas, possui 43,85 metros de comprimento e 7,96 metros de altura, com casco estruturado em chapas, e três pisos – a parte mais baixa, que funciona como casa de máquinas, caldeira, banheiros; a segunda parte onde se localizam os 12 camarotes, e a terceira parte, que era tida como área de lazer, e possui área coberta, bar e espaço que já foi muito utilizado como pista de dança, já que era comum transportar até 140 pessoas, entre passageiros e tripulação.

Após a construção, o vapor foi utilizado por um breve tempo nas águas do rio Mississipi, e transportava carvão, algodão e madeira do Minnesota ao porto de Nova Orleans. Naquela época, a força de 60 cavalos de potência era muito considerável para uma embarcação que utilizava lenha como combustível. 

Devido às muitas viagens, o mesmo possui capacidade para estocar até 28 toneladas desse material de combustão (lenha). O vapor costumava carregar mais cargas que pessoas, e logo fazia muitas viagens entre os rios da Bacia Amazônica também. 

Na segunda metade da década de 1920, a firma Júlio Guimarães adquiriu a embarcação e a montou no porto de Pirapora, recebendo o nome de “Benjamim Guimarães”, uma homenagem ao patriarca da família proprietária da firma. A partir de então, o vapor passou a realizar contínuas viagens ao longo do rio São Francisco e em alguns dos seus afluentes. Ao contrário das demais embarcações da época, as viagens eram programadas de modo a permitir que o mesmo atendesse às mais variadas necessidades, indo e vindo de vários portos intermediários antes do seu regresso ao porto de origem. 

Eram comuns as viagens que iam de Pirapora até Juazeiro, na Bahia. Há histórias que contam que o famoso cangaceiro “Lampião” almejou atacar essa embarcação, penando em suas grandes cargas. Mas a tripulação do vapor esquivou-se desse perigo conduzindo a embarcação para outra margem do rio, onde encontrou segurança. 

Na década de 1940, o vapor tornou-se propriedade da empresa Navegação e Comércio do São Francisco, do empresário Quintino Vargas. Em 1942, foi incorporada à Companhia Indústria e Viação de Pirapora. Os ribeirinhos sempre contam que esse barco serviu para o transporte de tropas do Exército Brasileiro durante a II Guerra Mundial (1939-1945), um dos motivos pelo qual se instalou uma Capitania Fluvial (que representa a Marinha do Brasil) em uma cidade que não tem contato com o oceano.

Em 1955, tendo ocorrido a encampação, pela União, de todas as empresas de navegação, o Vapor Benjamim Guimarães foi transferido, juntamente com outras 31 embarcações, para o Serviço de Navegação do Vale do São Francisco e, posteriormente, para a Companhia de Navegação do São Francisco.

Por várias décadas, o Benjamim Guimarães foi utilizado no transporte de cargas e passageiros no trecho Pirapora/Juazeiro, chegando a navegar com centenas de passageiros a bordo, que se dividiam em primeira, segunda e terceira classes, além de ter transportado – durante a II Grande Guerra – tropas do Exército Brasileiro que se dirigiam para o litoral de Pernambuco e do Rio Grande do Norte para o patrulhamento da costa, de onde embarcariam para a Itália, na Força Expedicionária Brasileira.

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