Pedro Nava, um literato misterioso

18/06/2021 às 00:13.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:12

Rosângela Rossi ocupa a cadeira 19 da Academia Juiz Forana de Letras, cujo patrono é Pedro Nava, um dos grandes memorialistas da literatura brasileira. Por esse motivo, a Rosângela o lê, estuda e escreve com responsabilidade, intensidade e profundo respeito. 

Sua obra e sua vida fascinam e inquietam muitos. Sua morte instiga múltiplas reflexões e rejeições. Sua inteligência brilhante e transgressora abriu caminhos na modernidade e deixou sua marca registrada na literatura brasileira.

Algumas questões perpassam a todas de forma inquietante e me instigou a desenvolver a Apologia a Pedro Nava nessa Academia, escreve Rosângela Rossi.

- Por que um homem tão brilhante, inteligente, médico amoroso, escritor talentoso, nos seus 80 anos, dá fim à sua vida de forma trágica a chocar a maioria?

Por ser ele memorialista decidi apresentá-lo, por ele mesmo, fazendo uma entrevista. Fiz as perguntas e ele me respondeu, através de sua obra. Esta ideia veio de um sonho que tive ao elaborar esta aula, em que ele me orientou como o apresentaria. Esse sonho muito me emocionou.

Rosângela entrevistou o Pedro Nava e as respostas dele aqui apresentadas são literais, tiradas de seus livros: Baú dos Ossos, Balão Cativo, Chão de Ferro, Beira-Mar, Galo das Trevas, Círio Perfeito e Cera das Almas, que transformei nesta crônica.

“Pedro Nava se diz ser um pobre homem do Caminho Novo das Minas dos Matos Gerais. Nasceu na Rua Direita da cidade de Juiz de Fora; no número 179, em frente à Mecânica, onde reinava minha avó materna. Seu nascimento se deu em 5 de junho de 1903. 

Em 1972 ele publicou o Baú dos Ossos – Memórias e diz que o memorialista é uma forma anfíbia de historiador e ficcionista e ora tem que palmilhar as securas desérticas da verdade, ora nadar nas possibilidades oceânicas de sua interpretação (Chão de Ferro, 1976, p.166). Memorialista conta o que quer, o historiador deve contar o que sabe. (Beira Mar, 1978, p. 378). Fazer memórias segundo Nava, é um ato extremamente sofrido. Não é um deleite. É torturante a evocação de duendes, coisas passadas. Não é agradável remexer no Baú dos Ossos (Entrevista Jornal da Bahia, 4/08/1970). Ele se diz recriador do passado não podendo descrever o passado sem o que aprendeu do presente. (Status de São Paulo, jan.1977).

Dono de uma cultura intensa em várias áreas, transitava pela literatura e artes plásticas em pleno movimento de Arte Moderna, que no Brasil toma força em 1922, participando ativamente desse Movimento.

Conviveu com o grupo de Revista Brasileira e da recém-criada Academia Brasileira de Letras. Foi (nestas salas) que o seu tio Antônio Salles travou amizade com Machado de Assis, Joaquim Nabuco, Lúcio de Mendonça e outros em que traçou o perfil dos primeiros acadêmicos (BC, p.307). A Academia de Letras, nos seus primeiros tempos, sofreu críticas e ataques descabidos de nossa imprensa, a galhofa das ruas, a chacota dos cafés. Um artigo de Antônio Salles foi, historicamente, sua primeira defesa, sua justificativa e demonstração do valor exponencial, cultural ou literário de grande parte de seus componentes (BC, p.307).”

Que nossas Academias de Letras sejam respeitadas, acolhidas, honradas, dignas como instituições modeladoras de caráter, defensoras das letras e portadoras da verdade. Uma Academia de Letras se faz pelos que a compõem, mas também por aqueles, que a apoiam; e é uma instituição de tal valia que, em cada rincão, por mais afastado que se encontre, uma instituição desse gênero deveria existir.

Parabenizo pois, à Rosângela por tão oportuna pesquisa, fazendo-nos conhecer entre outros aspectos os pioneiros da implantação de Academias de Letras. Parabenizo à presidente da Academia Juiz Forana de Letras, a Cecy Barbosa Campos e sua sentenciosa equipe por esse brilhante evento cultural, o Curso de Literatura!

Que Pedro Nava esteja em cada um de nós no cultivo da literatura para fugirmos das condições terrenas e ancorarmos nas regiões do espírito através das letras.

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