Mas falta amor

26/06/2020 às 00:37.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:52

“Como ainda ocorre em longínquas tribos esquimós, também no Japão, nos remotos tempos feudais, era de praxe uma atroz e inexorável prática. Quando uma mulher atingia 70 anos, passava a ser considerada como ônus, e fator improdutivo para a economia dos familiares. Então era levada por um parente até o alto de uma montanha distante e ali abandonada, exposta às intempéries, à fome, à sede e voracidade das feras. Muitos e muitos filhos tinham que cumprir essa penosa obrigação, sob pena de serem eles mesmos vítimas dessa bárbara condenação.  Destarte, no cumprimento de tão despótica tradição, um rapaz saiu de madrugada com destino às montanhas, levando a mãe. Mas, enquanto galgava os caminhos escarpados, pedregosos que davam acesso à montanha, observou que a mãe ia dobrando os ramos e galhos dos arbustos que se entrelaçavam nas margens da estreita vereda. O filho, intrigado com a conduta da mãe, perguntou-lhe, com ternura, por que fazia aquilo. Ela lhe respondeu, entre lágrimas: “Não quero, meu filho, que te extravies, quando regressares!”. O rapaz, diante dessa prova de supremo e inefável amor, voltou para casa trazendo consigo a exausta e debilitada progenitora, sem levar em consideração, contudo, as tremendas represálias que certamente teria que assumir. O inusitado e nobre gesto de amor filial, sem delonga, chegou aos ouvidos do imperador, e célere produziu excelentes frutos: eis que por meio de édito o monarca aboliu, para alegria de todo o império, tão abominável quão chocante e desumano costume. Esse gesto nos impressiona muito para os dias em que vivemos. O idoso precisa ser tratado com deferência. O espírito daquele filho em relação à sua mãe foi um gesto digno de consideração, pois à pessoa idosa deve-se atribuir toda honra e respeito. Muitos jovens vivem como se nunca fossem envelhecer. Mas não tem escolha. A juventude, que é passageira, é o caminho mais curto para se chegar à velhice, que é permanente. O fim da juventude tocará o início da velhice. Como indicam as estatísticas, os homens hoje vivem mais tempo. E, com a redução do coeficiente de natalidade, a percentagem de pessoas idosas no total da população está aumentando. Assim, envelhecer é uma das mais difíceis tarefas da vida humana. Todavia, longe de ser um estorvo, a velhice é, de fato, a oportunidade áurea para o crescimento humano – realização pessoal e felicidade profunda!

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