Festas de agosto-reminiscências de minha infância

28/08/2020 às 00:06.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:24

Eu era menina. Lá pelos meus dez anos, dois momentos me encantavam passando ali pelo bairro Roxo Verde: a Boneca de Leonel e o desfile de catopês na festa folclórica do mês de agosto. Dois encantos de minha infância ao vivo, que eu os apalparia se o quisesse.

Das festas de agosto eu me lembro dos catopês naquele desfile ordenado indo alguns metros e voltando, fazendo com que a passagem fosse retardada e nós assistíssemos por mais tempo àquele séquito mavioso. Iam de casa em casa para buscar as princesas; que no Dia de Nossa Senhora do Rosário iam vestidas na cor-de-rosa; no Dia de São Benedito na cor azul e no Dia do Divino Espírito Santo iam vestidas de vermelho; os reis e rainhas também iam vestidos nas mesmas cores de acordo com o santo homenageado.

Reis e rainhas finamente vestidos com roupas trabalhadas com paetês e lantejoulas e plumas ostentavam coroas sobre as cabeças, símbolo de autoridade e nas mãos o cetro do poder real. Era bonito de se ver aquele desfile caracterizado pela pompa, como se a realeza britânica se houvesse visitando Montes Claros. Reis e rainhas do Cerrado, bioma sustentado pela ousadia, enfrentando as intempéries do semiárido, mas que festejam o reinado da coragem, da raça e da simplicidade de um povo cheio de fé e esperança.

E lá iam os catopês com aquelas roupas brancas, sapatos brancos e os capacetes bordados bem trabalhados ornando suas cabeças. Entoavam um canto melancólico e duradouro com notas intensas e expressivas como que numa fermata de dor e de saudade. Foi a herança dos povos africanos com a recordação de sua pátria; os marujos reportam os feitos dos marinheiros portugueses e os caboclinhos nos recordam os índios. As três raças que formam o povo brasileiro.

Um fato dessa festa me emociona! Os filhos do saudoso mestre Nenzinho (José Calixto da Cruz), chefe da primeira marujada em Montes Claros (Vila Ipiranga) estudaram na Escola Estadual Antônio Figueira. E lá nos idos de 1980 eles foram naquela escola para nos homenagear com suas cantigas e batuques. Posso falar de mim que a emoção foi muito grande: foi emoção irmanada à gratidão e uma aura de reconhecimento me importunou, tamanha importância que me revestiu; senti-me honrada com um Oscar nos EEUU ou com um troféu Imprensa no Brasil. Era a história homenageando os valores históricos de nossa querida Montes Claros.

Eita Festas de Agosto!

Cadê seu Miguel, cadê seu Aníbal, os outros e os demais? Oh, catopês, caboclinhos e marujos sapateiem com os pés, toquem violas, vão no ritmo do tambor indígena e deixem as fitas coloridas descerem dos capacetes envidraçados e brilhantes enfeitarem suas frontes erguidas e sofridas, trazendo para as ruas a memória de tantos ancestrais para as novas gerações.

E nós entoaremos enquanto vivermos o canto da saudade:

“Glória a Deus glória a Deus; Glória a Deus glória a Deus; até para o ano...”.

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