Barbacena das rosas e de Minas Gerais

20/08/2021 às 00:01.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:43

Quando eu era menina e fazia alguma coisa incorreta ou passível da crítica de nossos ancestrais, eles nos perguntavam se estávamos ficando doidos; depois eles concluíam que ali não era nosso lugar, pois “lugar de doidos era em Barbacena”. Nunca questionamos aquele refrão, mesmo porque quase nada nos importava. Mas nós sabíamos de tanto ouvir como repreensão que “lugar de doido era em Barbacena”. No fim do século XIX, a capital de Minas Gerais, Ouro Preto, estava de mudança. Belo Horizonte ou Barbacena? Perdeu Barbacena. Os políticos da época, para “compensar”, construíram lá um grande hospital para pessoas mentalmente perturbadas.  Ironicamente, o hospital foi construído na fazenda que pertencera a Joaquim Silvério dos Reis, o traidor da Inconfidência Mineira. Barbacena ficou conhecida como a “cidade dos loucos”. Para Barbacena afluíam milhares deles, levados no que ficou conhecido como “o trem dos loucos”. Seres humanos, alguns deles em condição hoje plenamente controláveis, eram apinhados no hospício da cidade, cuja população chegou a 5 mil pacientes.  Sem leitos para todos, muitos ficavam em um vasto salão, forrado com capim, dormindo entre dejetos, moscas e ratos. Todos os dias pela manhã, os serventes recolhiam os cadáveres dos que haviam falecido à noite. Aquele foi um colossal campo de concentração, monumento à ignorância e à crueldade humanas. Historiadores calculam que entre 60 mil e 65 mil pessoas morreram naquele holocausto sombrio. Ponto finalOs tempos mudaram. Novas informações e avanços na ciência e na revolução terapêutica colocaram um ponto final nesse capítulo escuro de nossa história. Ainda hoje, há pessoas internadas lá, principalmente casos de atendimento social, gente que não tem para onde ir. Parte do velho hospício abriga um pequeno museu, memória distante do triste passado.  Barbacena hoje é conhecida como a Cidade das Rosas, pois produz flores belíssimas, exportadas para muitas partes do mundo. Essa troca evoca o caráter simbólico da transformação. Vivemos em um mundo hostil, com muitos alienados, a maioria sob a pretensão de sanidade, será transformado. E isso vai depender da minha e da sua decisão de sermos um defensor dos fracos e oprimidos. Vamos pensar no bem que poderemos fazer hoje: transformar o ambiente em que vivemos ou trabalhamos num lugar em que algumas rosas possam, teimosamente, germinar e florescer.     

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