Dia a dia a situação se agrava no Brasil. Agora nos leitos de UTI os inquilinos não são mais apenas idosos, os jovens já passaram a fazer parte dessa dolorosa estatística, que se torna ainda mais pesada quando esses jovens deixam de ser números de internados e se transformam em mais um óbito. Ante tanta dor, principalmente daqueles que perderam entes queridos, sem direito a um último abraço, a um último beijo ou a um “te amo”, só resta o silêncio.
E o silêncio outrora tão apreciado por muitos, ante o turbilhão de informações que a sociedade nos imponha, começa a se fazer pesado. O silêncio que a falta do outro nos faz, o silêncio das relações, o silêncio da falta de atividade, o silêncio de quem se vai começa a abrir feridas que estão levando a sociedade a ser acometida por outras doenças, como a depressão.
A ausência do outro que está ao alcance das mãos, embora distante em função das regras de distanciamento, parece estar doendo tanto quanto as perdas das vidas, imputadas pelo vírus. A perda das relações sociais, que têm obrigado a muitos de nós a viver solitariamente, tem provocado consequências que ainda não sabemos medir.
Se antes os consultórios, presenciais ou virtuais, eram inundados de quem temia o vírus, temia a morte física, agora eles recebem mais e mais pessoas que temem a morte pela solidão. Não apenas os números de pacientes nos consultórios psicológicos, bem como o aumento do consumo de álcool demonstra quanto medo nós temos de ficar a sós com nosso eu. Desacostumados que estávamos ao silêncio de nós mesmos, nos vemos aflitos, inconformados e adoecidos pela ausência da louca rotina de outrora.
Por isso, e diante de tudo que estamos vivenciando, precisamos, com urgência, cuidar desse adoecimento, sob pena de perdermos mais e mais vidas ao longo dessa caminhada, porque a dor já não está mais cabendo em nenhum de nós. Então, nos mantermos atentos ao outro, mesmo que a distância, é a melhor forma de evitarmos que essa dor não nos roube mais ninguém.