Sem cair no ridículo

Mara Narciso - Médica e Jornalista
Montes Claros
07/08/2018 às 03:47.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:48

É fácil agradar aos tolos com elogios, mesmo quando as falas são verdadeiras e os fatos admiráveis. A sinceridade anda em falta, mas isso não é tudo. Quem recebe o aparente comentário positivo cresce internamente, às vezes em exagero, sem saber que na verdade encolhe. Sente-se grande, melhor que os outros, e para quê? Ilusão pensar que se ofuscam os que estão abaixo. Orgulho é um pecado capital? E a vaidade? E a lisonja? Vamos pensar juntos.

Quando se recebe um comentário elogioso, qual é o sentimento sadio que deve prevalecer? Ainda que sejam correntes os elogios em boca própria, o bom senso manda esperar pelo elogio de outra boca. Nós e nossos pecadilhos de seres humanos que calculam mal o próprio tamanho. Tudo e todos somos efêmeros.

Acorda, você é importante para você e para quem gosta de você. Lutar contra isso não é sensato. Ah, mas tem a ameaça da baixa auto-estima. Sim, pois há quem seja maior do que pensa que é. Humildade sim, humilhar-se não. Como encontrar a dose certa do gostar de si mesmo e se valorizar, sem querer se sobrepor aos demais? Tem-se que achar o equilíbrio sem se deixar cair nas garras da depressão, fruto das oscilações dos ritmos hormonais.

E o oposto? Eu sou o melhor! Havia uma propaganda em 1968 que dizia: “Quem não é o maior tem de ser melhor! Atlantic, serviço nota 10!” As frases de efeito levam tudo para cima. A autoconfiança não deverá subir demais, porque depois poderá não estar preparada para a queda. A Lei de Newton é irrevogável (1687). “Se subiu tem que descer”(Raul Seixas). O ruim de chegar ao topo é ter apenas a descida como opção. Será que vale a pena chegar lá tão cedo?

Os jovens subitamente milionários por herança ou loteria não costumam manter a riqueza. O despreparo os levam à ruína. Nisso o amadurecimento costuma ser ponto positivo. É bom fugir do deslumbramento. Além de feio e incomodar, pode levar a vítima a se achar mais do que realmente é, e assim, sofrer demais com a descida.

A serenidade é indispensável para lidar com as oscilações da vida. Como a pessoa equilibrada, humilde e cheia de virtudes deve se comportar ou se sentir quando atingir uma meta invejável, um prêmio para o qual se preparou muito? Sentir-se orgulhosa, envaidecida ou lisonjeada? Orgulho, vaidade e lisonja bem não fazem. Senão, vejamos o que diz o Dicionário Aurélio: orgulho: sentimento de dignidade pessoal, brio, altivez; conceito elevado ou exagerado de si próprio; vaidade: qualidade do que é vão, ilusório, instável ou pouco duradouro; desejo imoderado de atrair atenção e homenagens, vanglória, presunção; lisonja: louvor afetado, adulação, bajulação; mimo, afago, carícia.

Então, o que dizer dos seguintes versos de Raul Seixas, um gênio que, aqui debocha de todos? Em Rockixe ele diz: “Vê se me entende, olha o meu sapato novo, minha calça colorida, o meu novo way of life/ Você é forte, mas eu sou muito mais lindo, o meu cinto cintilante, a minha bota, o meu boné/ Olha o meu charme, minha túnica, meu terno, eu sou o anjo do inferno que chegou pra lhe buscar.” Nós e o imprevisível e por vezes detestável lado de dentro, quando consideramos apenas o lado de fora.

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