Providência de Deus: governo ou fatalismo?

Wendell Lessa
wendell_lessa@yahoo.com.br
02/12/2021 às 00:11.
Atualizado em 08/12/2021 às 01:11

Em tempos nos quais pressupostos relativistas e pragmáticos são os mais comuns e aceitos, especialmente no Ocidente, torna-se desafiador reafirmar uma das verdades mais caras da Teologia Bíblico-Reformada: a soberana providência de Deus sobre todas as coisas. Afirmar a soberana providência de Deus causa sérios problemas às mentes céticas ou anticristãs. Causa problemas, até mesmo, em alguns setores evangélicos. 

Afirmar a soberana providência de Deus afeta diversas áreas da existência cósmica e humana. Podemos citar apenas alguns problemas: a soberana providência de Deus não seria uma forma de determinismo ou fatalismo? Se tudo já está previamente determinado por Deus, quais seriam os limites da liberdade humana? Não seria o Cristianismo uma espécie de “camisa de força”? 

A providência também afeta um tema nevrálgico da Teologia: a questão da existência do mal. Desde Agostinho, esse é um problema com o qual vários teólogos lidam: se Deus é bom, por que existem coisas ruins no mundo e vida humana – morte, dores, sofrimentos, tragédias em geral?

“Providência de Deus: governo ou fatalismo?” é título de um livro do Rev. Dr. Hermisten Maia Pereira da Costa, pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil e professor acadêmico, tanto em Seminários da IPB quanto na Universidade Presbiteriana Mackenzie. A obra se inicia com uma perspectiva que visa anular a compreensão dualista que muitos têm da vida cristã: não existe dualismo entre doutrina e prática teológica. 

Infelizmente, alguns líderes religiosos, com a finalidade de justificar certas práticas equivocadas, ensinam suas comunidades religiosas que a doutrina não tem validade para a vida prática. Chegam a dizer que a doutrina é “fria”, é material “acadêmico” e que, portanto, contraria a necessária “intimidade” com o Senhor. O que pregam é que se você quer ter uma vida espiritual íntima com Deus deve abster-se dessas “questões doutrinárias”.

Essa compreensão é altamente perniciosa. Não deve haver, de modo algum, dualismo entre conhecimento e confissão doutrinária com experiência e vivência de vida cristã. A razão é muito simples: é a compreensão de Deus (doutrina, teologia) que subsidia nossa vida cristã (a prática da intimidade com o Senhor). O livro apresenta a perspectiva correta: não existe dualismo. A obra corretamente nos encoraja a aplicar as Escrituras Sagradas, Palavra de Deus, em todas as áreas da vida, sem dualismo, sem visões estanques e fragmentadas, mas unificadas, buscando a integralidade da restauração da existência, visando sempre a glória de Deus em todas as coisas.

O autor argumenta que não é necessário viver em desesperança ou em tensão constante, porque Deus governa o universo e o ser humano que está contido nele. E essa é uma decisão existencial, pois se a nossa compreensão de Deus for diferente, teremos sérias dificuldades para entender as circunstâncias.

A única visão de mundo que reflete a verdade das Escrituras é aquela que afirma ser Deus o governador do universo e de nossas vidas, um Deus que interfere, o Deus que está aqui, que dirige tudo o que acontece, que não se afasta de nós, que estabelece limites, padrões, regras e preenche todas as estruturas sociais, culturais, morais e espirituais para que a sua glória seja reconhecida.

Perto do fim, a obra traz uma exposição acerca da Escatologia e sua relação com a doutrina da providência, abordando o conceito de História e a compreensão que os reformados têm acerca do “fim da História”. Costa afirma que “o Cristianismo é uma religião de fatos, palavra e vida”. Os fatos históricos são fatos da providência divina. Assim, pensar o caminhar da História tem relação imediata com o fato de Deus governar todas as coisas. 

Finalmente, Costa afirma: “A História é a execução do plano de Deus, conduzindo todos os acontecimentos para a sua glória. A História caminha rumo à eternidade – não de forma necessária, deteriorante ou aperfeiçoante –, mas progressiva e realizante. Com isto, queremos dizer que o homem não está necessariamente pior nem melhor, mas que, o hoje, independentemente disto, está mais próximo do fim, do que ontem (Romanos 13.11)”.

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