Por que escrevo?

Mara Narciso - Médica e jornalista
Montes Claros
31/07/2018 às 07:20.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:40

Para que alguém leia. Não faz sentido escrever para arquivar. Também para espalhar o que penso e sinto, já que ler é viajar no pensamento do outro. Por vaidade, porque é bom saber que alguém leu o que eu produzi. Para influenciar pessoas, não para mudar seu ponto de vista, mas para ampliar seu leque de ideias, abrir uma janela, fazer pensar. Há quem diga que escrever é uma forma de exibicionismo. Certamente que é também uma maneira de aparecer. Não vejo motivo para negar, ainda que muitos autores pensem como eu e não digam.

Colocar na tela minhas ideias é um ato de coragem. Quantos pensam e escrevem coisas semelhantes e não conseguem publicar por receio? Contraditoriamente, meus pensamentos são amenos. Não escreverei algo para escandalizar, ainda que tenha recebido alguns telefonemas na madrugada seguinte ao lançamento do meu livro “Segurando a Hiperatividade”. Disseram-me: você é louca! Isso porque no livro eu narro a história do meu filho Fernando Narciso Silveira, portador de TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade -, sem nenhum traço de censura. Não censurar o que penso e externar esse pensamento é ousar. Algumas pessoas estranham a minha doença da sinceridade e a minha sede de verdade.

Contraditoriamente, sou discreta e reservada. Escrevo para manter a sanidade, já que não tenho com quem conversar. Quando me canso de falar com as paredes, fico nua e converso com o teclado. Porque, escrever é desnudar-me ao expor meus pensamentos mais íntimos. É uma confissão, quase uma sessão de psicanálise. Requento o lugar comum e o apresento com uma nova cara. Nada do que escrevo é novidade, pois tudo já foi escrito a exaustão. Será que vale a pena repetir o que está à vista de todos? O senso comum prepondera, mas as certezas, mais do que as dúvidas, precisam ser repensadas.

Como diz meu filho, quem se explica já está errado, mas eu me explico. Gosto de conversar, mas não com qualquer pessoa. É certo que todos têm algo a acrescentar, mas, faço minhas escolhas de prioridades, para não me arrepender depois.

Como escrevo há algum tempo, não entendo o mundo sem ler, já que fazer isso é uma das boas distrações que há. E muitos da minha geração não sabem ler. Isso é chocante! É como faltar luz. Ou melhor, faltar água e comida. Lendo, eu invado o interior do autor, vibro, festejo, rejeito, sinto náuseas. A vida é assim, desarrumada, pois tem quem seja fanático por aquilo que odiamos. Devemos estar preparados para sermos contrariados. Muitos universos de pensamentos coexistem, e são reconhecidos, desde a criação da escrita. Desta forma, temos apenas uma vaga ideia do que anda ou já andou pela cabeça humana. Uma imensidão de conceitos e criações se perdeu. A escrita preserva essas reflexões, especialmente na era digital, então, quando alguém escreve, falando do seu tempo, guarda sua existência num sacrário, e isso pode ser para sempre.

Escrever é uma contribuição vaidosa. Que seja. Eu falo do que me cerca (exceto nos raros casos de ficção). Acaba sendo um canal para o equilíbrio e paz ou desequilíbrio e guerra, um caminho para o permanente, por isso eu escrevo.

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