Os cem anos de Nelson Gonçalves

Mara Narciso - Médica e jornalista
30/07/2019 às 06:28.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:45

Em 21 de junho 1919 nascia Nelson Gonçalves, na verdade Antônio Gonçalves Sobral, gaúcho de Santana do Livramento, e morreu em 1998. Começou a carreira artística como cantor e compositor em 1941, quando gravou seu primeiro disco, estando no auge na década de 1950. No meio dela, eu nasci num lar musical onde se ouvia a boa música e entre elas muitos discos do admirável cantor de voz viril de barítono. Ainda que o estilo que nos faz a cabeça é o que está na moda quando somos adolescentes, eu, criança, me encantei e passei a vida cantando as músicas apaixonadas de Nelson Gonçalves. Sei as letras dos sucessos dele, alguém que mudou a sílaba tônica da palavra boêmia, dizendo “boemía”, em “A volta do boêmio”, de Adelino Moreira, o seu maior hit.

Sua maneira de cantar é típica do seu tempo, com voz encorpada e empostada, grandes orquestras e campeão de vendas, sendo o segundo maior vendedor de discos do Brasil, com 81 milhões de unidades. Roberto Carlos é o primeiro. Suas músicas continuam circulando no YouTube, onde as gravações recebem muitas mil visualizações, com subidas rápidas.

O melodrama das suas músicas que falam de amores, bares e prostitutas encontra eco em sua vida, alguém que se separou muitas vezes devido a infidelidade e se casou outras tantas, e teve cinco filhos de três mulheres. Um dos seus filhos herdou sua voz e dom musical e pode ser ouvido pela internet afora.

O pai de Nelson Gonçalves era pobre, vendia frutas, tocava violino na feira e o filho criança o acompanhava cantando em cima de um caixote. Antes da fama, Nelson trabalhou como jornaleiro, mecânico, engraxate e garçom. Como pugilista ganhou prêmio no peso médio. Em uma das capas dos seus discos pode-se ver o seu braço musculoso de lutador de boxe.

Interessantes mudanças de estilo acompanharam sua imagem ao longo da carreira. No começo usava gel no cabelo e depois cabelo longo. Não parou no tempo, e gravou discos com cantores e cantoras de outros estilos musicais, inclusive roqueiros.

Foi dependente de cocaína durante 20 anos, sendo preso por porte. Gravou depoimento emocionante da sua luta para vencer o vício, o qual chegou a largar completamente, voltando a subir na carreira antes desgastada pela droga.

Ouvir o vozeirão de Nelson Gonçalves, que gravou mais de 2 mil músicas é prazer e certeza de envolvimento e emoções. Catarei ao acaso alguns versos para soltá-los aqui como pedras preciosas na areia. “Cabocla, o meu olhar está me dizendo, que você está me querendo, que você gosta de mim”. “Boneca de trapo, pedaço da vida, que vive perdida no mundo a rolar, farrapo de gente, que inconsciente, peca só por prazer, vive para pecar”. “Negue o seu amor, o seu carinho, diga que você não me esqueceu, pise, machucando com jeitinho, esse coração que ainda é teu”. “Boemia, aqui me tens de regresso e suplicante te peço, a minha nova inscrição. Voltei pra rever os amigos que um dia, eu cheguei a chorar de alegria, me acompanha o meu violão”.

É o que temos para hoje. Para ilustrar procurem por Nelson Gonçalves no YouTube.

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