O que temos a comemorar?

Leila Silveira/ Délcio Fortes
04/05/2019 às 07:38.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:30

Quarta-feira passada foi dia de celebrações em todo o Brasil e no mundo onde quase uma centena de países comemorou o chamado “Dia do Trabalhador”. O que pouca gente sabe é que esse dia, que poderia se chamar “Dia de Luta do Trabalhador” ou “Dia das Oito Horas de Trabalho” teve sua origem no século 19, no dia 1º de Maio de 1888, na cidade de Chicago, berço da indústria automobilística norte-americana.

Nesse emblemático dia, cerca de 500 mil trabalhadores desfilaram pelas ruas pedindo a redução da jornada de trabalho para oito horas. Apesar da marcha ser pacífica, a repressão policial para dispersar os participantes foi extremamente violenta. Dezenas de operários morreram e muitos ficaram feridos. Este episódio ainda rendeu vários outros desdobramentos nos EUA e na Europa, culminando finalmente em 1890 com a conquista da jornada de oito horas de trabalho pelos operários americanos.

Aqui no Brasil a data costuma ser reservada para que os governos de plantão façam concessões ou costumem anunciar alguma notícia alvissareira de interesse dos trabalhadores, seja com relação ao salário mínimo, seja com relação às condições de trabalho. Isso tem sido uma atitude e comportamento comum em nossos governantes, tanto nos períodos ditatoriais como nos hiatos democráticos que permeiam nossa instável governança. Assim faz parte já de nossa tradição a esperada aparição do presidente da República em rede nacional de rádio e TV para anunciar alguma medida de interesse para a imensa maioria do povo brasileiro.

O que virá dessa vez? O que temos a comemorar nesse 1º de Maio de 2019? Os mais de 13 milhões de desempregados “oficiais” do país, que somados aos que “fazem bico”, desistiram de procurar emprego, ou trabalham menos horas do que o necessário já somam cerca de 28 milhões de brasileiros?

Ou será a famigerada reforma da previdência, que vai apertar ainda mais o cinto de quem já está na base da pirâmide, conservando privilégios dos que podem mais, solapando direitos duramente conquistados, deixando os grandes devedores como os bancos e grandes empresas livres, leves e soltas?

Ou soltaremos foguetes pelos cortes nas universidades públicas, ao ataque aos direitos humanos, ao “desmanche” dos órgãos ambientais, ao armamento da população, à hostilidade à filosofia e sociologia, ao desmantelamento da cultura, à criminalização dos movimentos sociais.

Podemos comemorar os derrames de lama de Mariana e Brumadinho, onde tantos trabalhadores foram mortos pela ganância, pela negligência, pela falta de fiscalização e pela certeza de impunidade?

Alguém pode sugerir os inquéritos arquivados contra políticos sabidamente corruptos, os assassinatos de militantes e ativistas sem respostas convincentes, os juros estratosféricos, a violência urbana, os feminicídios, a saúde caótica, a exclusão social.

Como disse o poeta Gonzaguinha, “o homem se humilha se castram seu sonho, seu sonho é sua vida, e a vida é trabalho, e sem o seu trabalho, um homem não tem honra, e sem a sua honra, se morre, se mata”.

Definitivamente, não dá pra ser feliz neste 1º de maio de 2019! Cuide bem de você!

  

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