O novo insumo

Leila/Délcio
16/02/2019 às 06:18.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:34

Em economia, fatores de produção são elementos indispensáveis ao processo produtivo de bens materiais. Tradicionalmente, consideram-se como fatores de produção, a terra, o trabalho e o capital. Nos futuros compêndios de economia, a serem escritos nos próximos anos, certamente aparecerá um novo ator, um novo insumo, um novo e poderoso fator de produção denominado Ciência e Tecnologia.

O Brasil, infelizmente, tem andado na contramão dos países desenvolvidos e emergentes, à medida que pouco se tem avançado nesta importante área do conhecimento e que, ao contrário do que a maioria das pessoas percebe, tem grande impacto na vida de cada um, no cotidiano de nossas existências, na qualidade de serviços prestados à população. Infelizmente aqui, ciência e tecnologia não despertam interesse popular, não dá “Ibope”, não dá “voto”, não faz parte das agendas empresariais privadas, das faculdades, da mídia e dos políticos em geral. Muita gente pensa que ciência e tecnologia é “coisa do Governo”, é atribuição federal, é responsabilidade apenas do Planalto Central e seu capenga ministério, de onde deveriam vir os financiamentos, verbas e programas de fomento para as faculdades, entidades e empresas interessadas no tema.

Esta não é a realidade no mundo, este não é o arranjo nos países desenvolvidos como EUA e União Europeia, onde a grande maioria dos investimentos em pesquisa não sai dos cofres públicos e sim na iniciativa privada, que tem um laço muito mais estreito com as faculdades do que aqui nas nossas terras tupiniquins. Lembro-me perfeitamente do desmonte que foi feito durante as privatizações dos anos 90 nas principais empresas estatais, como a Acesita. A primeira decisão pós-privatização era acabar com os incipientes “Centros de Pesquisa”, criados a duras penas, que já congregavam uma boa quantidade de mestres e doutores, com suas respectivas linhas de trabalho, e que tiveram de incorporarem-se compulsoriamente às rotinas operacionais das empresas. Claro que a grande maioria não se adaptou e foi embora buscar novos desafios.

O resultado de um modo geral desta política equivocada pode ser medido na nossa pauta de exportações. Somos cada vez mais dependentes de “commodities” nesta área, e praticamente não conseguimos exportar mais nenhum produto com valor agregado. Uma rara e honrosa exceção nesta área é a Embraer, 3ª empresa na área de aeronáutica do mundo (atrás apenas da Boeing e Airbus), que perseverou na manutenção de sua política de inovação e não se deixou contaminar com o processo de desmanche ocorrido nas maiores empresas do Brasil na área de inteligência e engenharia.

Somos medíocres em inovação e isto pode ser comprovado em números. Enquanto no Brasil 10 mil cientistas são capazes de gerar 29 novas patentes por ano, na Coreia do Sul os mesmos 10 mil geram 590 patentes/ano. Precisamos quebrar o paradigma tropical que lugar de cientista é nas faculdades e institutos de pesquisa. Precisamos colocar os cientistas nas empresas para, a partir de uma ideia, desenvolver a pesquisa aplicada e em seguida desenvolver o produto, este de preferência global, competitivo e destinado à exportação.

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