O descanso existencial

Wendell Lessa
wendell_lessa@yahoo.com.br
11/03/2021 às 00:59.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:22

A maneira mais comum de alguém questionar os planos de Deus é quando experimenta adversidades na vida. Essas situações, como a que experimentamos agora na pandemia, deixam a sensação de que Deus não existe, de que ele está distante e de que aquilo que os pregadores, especialmente cristãos, ensinam semanalmente quando dizem que Deus controla todas as coisas e é bom em tudo o que faz é pura mentira. Não é difícil concordar com os ateus quanto a essa possibilidade. 

Quando vemos também o comportamento das pessoas à nossa volta, percebemos o quanto a humanidade nos faz duvidar da moralidade. Crimes, corrupção e miséria. O único caminho razoável para justificar nossa indignação é o da dúvida na humanidade e, consequentemente, do desespero quanto a uma possível mudança de mentes. E, de novo, Deus parece ausente do cotidiano das pessoas, até mesmo daquelas que se dizem crentes nele. Elas professam com os lábios palavras sensíveis, mas agem com insensatez.

Essa concepção cultural penetra nossas mentes e faz com que vivamos alarmados e reféns desse mundo, como se ele fosse o único mundo possível. Sem perceber, cedemos lugar a uma mente relativista que despreza os valores absolutos e nos esquecemos de que professamos que Deus controla todas as coisas conforme o seu plano eterno revelado nas páginas das Escrituras.

Com os olhos voltados para as circunstâncias e não para o que cremos, perguntamos: terá realmente sentido a vida proposta no evangelho que os cristãos anunciam? Aonde Deus quer chegar permitindo que a Covid-19 mate tantas pessoas e arruíne tantas vidas? Terá Deus se tornado perverso? Ou será ele um Deus vingativo que se importa apenas consigo? Ou talvez: será que ele não existe de fato e tudo o que falamos dele é apenas projeção de mentes doentias e fracas que se escoram em um ser idealizado? Onde poderemos achar respostas para as nossas possíveis dúvidas?

A resposta cristã é que um cristão genuíno crê que a Bíblia, à qual ele chama de Palavra de Deus, é “única regra de fé e prática” e explica tudo o que é preciso saber sobre o ser de Deus e seu plano para a humanidade. O salmista disse que a Palavra de Deus é “lâmpada para os nossos pés e luz para os nossos caminhos” (Salmo 119.105), o que significa que, para o cristão, a única maneira de encontrarmos o descanso existencial de nossas dúvidas é na compreensão da verdade revelada na Bíblia. E, como afirmou J. G. Fichte, “a filosofia pela qual um homem opta determina o tipo de homem que ele será”. Em outras palavras, tudo o que pensamos e, finalmente, fazemos é, na verdade, a história de nosso próprio coração. 

Os cristãos sabem, porque experimentam em seus próprios dilemas, que a vida se torna muito mais sólida e as explicações mais consistentes quando ele olha para as Escrituras Sagradas com os olhos da fé, ainda que “em vales sombrios como o da morte” (Salmo 23.5). Em seu coração, ele é preenchido por um quase inexplicável prazer de usufruir de sua certeza de fé. Ainda que chore, ele é capaz de profundamente alegrar-se. Em seus questionamentos mais dolorosos, quando acossado pela inquietude que nenhuma ciência é capaz de amainar, ele se deita sobre os pastos verdejantes e bebe das águas tranquilas, refrigerando sua alma com uma doce certeza que o leva ao descanso existencial. E, como Agostinho, ele é capaz de dizer: “Fizeste-nos, Senhor, para ti, e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em ti”.

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