O avesso do avesso do avesso

Leila Silveira e Délcio Fortes
27/07/2019 às 07:22.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:43

Todos nós temos dificuldade de lidar com o “diferente”. Todos nós ficamos desconfortados diante de uma situação nova. De uma maneira geral, tendemos a nos aproximar daquilo que conhecemos, até por questão de afinidade e sobrevivência. Informalmente é difícil de lidar com pessoas que consideramos como “difíceis”, mas por questões corporativas ou até mesmo devido aos organogramas, não podemos desconhecê-las.

Nesses casos é necessário certo esforço nosso para negociar, para discutir um assunto de interesse comum, para resolver algo pendente. A novidade é que, por mais difíceis que essas pessoas possam ser, elas são mais fáceis de negociar do que nós mesmos. Cultivamos um olhar de Narciso para exaltar nosso ego e personalidade e assim criarmos motivações sutis para excluir o outro, pra demonizá-lo por pensar diferente, por nos criticar abertamente, por não repetir o nosso “script”, nossos argumentos, nossos interesses, nossa filosofia de trabalho.

Repetimos para não haver dúvidas sobre nossa tese: “as pessoas que são mais difíceis de lidar e negociar somos nós mesmos!”. Somos mestres para encontrar “culpados”, especialistas a “concordar com as normas institucionais”, “experts” em repetir o que o chefe ordena, em transformar adversários em “inimigos”, em criar barreiras, em formar “panelinhas”, em marcar território, em dizer “sim, senhor”!

Uma crise sem precedentes como a que estamos vivendo é o avesso daquilo que nos acostumávamos a praticar e tem um significado comum a todas elas. A saída mais fácil é fechar as portas, entrar em concordata, desistir de competir e promover demissão em massa. Sob outra perspectiva o momento pode ser de oportunidades surgindo, de destravar velhos e bons projetos das gavetas, de buscar novos produtos, de rever a gestão da empresa. Não dá mais para passar apenas uma maquiagem, fingir de morto, sumir da praça, ficar incólume.

Foi assim que Caetano conseguiu com esforço a enxergar “Sampa” do jeito que ela é, e não do jeito que o tropicalista estava acostumado, tirando seu olhar do umbigo egoísta, para uma realidade plural, miscigenada, única, cheia de possibilidades, alternativas e acontecimentos. Ficando intrigado, não fugindo da raia, expondo-se aos encantos da cidade, foi que tudo se encaixou, fazendo fluir sua carreira virtuosa, materializada na canção que de certa forma se tornou também o hino informal de São Paulo.

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