Mexa-se!

Mara Narciso - Médica e jornalista
O Norte - Montes Claros
13/11/2018 às 03:08.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:48

Já dei guinadas radicais em minha existência, mas também vivi períodos no time dos acomodados. Sou humana, tenho cá meus fracassos, receios e até medo de enfrentar o desconhecido. Em algumas pessoas essa característica se torna algo paralisante, uma incapacidade de largar o que é ruim, para não se embrenhar num mundo estranho, talvez selvagem. Tenha coragem para desbravar. A maturidade costuma dar segurança, e, quando jovens, agarramo-nos em qualquer suposta garantia, para evitar a face oculta da lua. Para vê-la, é preciso ir até lá.

Várias profissões são sufocantes e opressoras, um trabalho escravo, e mesmo assim, muitos se agarram a elas como a um bote salva-vidas. O telemarketing é uma delas. É comum apegar-se a tal emprego torturante, para não enfrentar uma realidade nova, inicialmente com os pés no vácuo. A escolha parece responsável, no entanto, buscar qualificação noutra área será melhor, devido à alta incidência de adoecimento.

E casamentos falidos? Boa parte deles vai se esfacelando durante anos, sem nada que una o casal, sem planos nem vontade de ficar juntos. Alguns sentem náusea quando precisam voltar para casa, e, qualquer companhia, por mais idiota que seja, parece melhor do que a “cara metade”. Mas, ainda assim, o outro, sabedor da verdade, por covardia, prefere uma coleira de ferro atada aos braços por uma corrente, e das mãos, outra segue até as pernas, do que a liberdade. E pensa o cativo: deixa estar. Pelo menos já conheço o peso dessas amarras.

O que fazer com toda a liberdade que virá? Muitos não sabem para onde ir. Quando os grilhões pesados dão uma falsa sensação de segurança, a liberdade ameaça. A pessoa está tão acostumada a que decidam por ela, que, ao se ver livre, fica imobilizada, como se continuasse presa, ainda agarrada ao vício por ter ficado atada por muitos anos. A porta da cela está aberta, mas as grades emocionais sufocam. Não tem ânimo nem de dar uma espiadinha lá fora.

O comodismo anestesia, enquanto o desconhecido parece tempestuoso. Há quem não consiga engravidar por temor, ou ainda, não viaja por medo de voar. As fobias, para receberem esta denominação, fogem ao racional. Se há razoabilidade, não é fobia. A situação fóbica rouba vida, amedronta, castra sonhos, impede realizações. Há tratamentos especializados para acabar com ela, mas o enfrentamento necessário é ato complexo.

Quando a terapia é realizada e o bloqueio superado, pode-se fazer o que se esperou por muito tempo, desde que não falte ímpeto nem saúde. Qual é o seu sonho? O que lhe falta? Quer ver uma personalidade, conhecer um lugar, amar, ser amado, adquirir algum bem material, ajudar ao próximo, fazer algo realmente grande? Podem não acreditar, mas confesso que vivi e realizei mais do que sonhei. No momento estou sem sonhos. Espero conciliar o sono e voltar a sonhar, porque será motivador.

Quanto ao medo de novidades, muitos continuam a padecer disso. Para ver por cima do muro é preciso esticar o pescoço e se não alcançar o outro lado, pode-se subir numa escada. Ver o horizonte numa visão ampliada, ainda que feia e até mesmo suja, será melhor do que viver estagnado. Arrisque-se! A vida é agora!

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