Entre a decepção e a culpa

Mara Narciso - Médica e jornalista
09/07/2019 às 06:53.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:27

Andamos de braços dados com a decepção e nem sempre a fonte dela vem de quem nos decepciona e, sim, de nós mesmos, que colocamos nas mãos de alguém muitas expectativas, mais do que ele poderia nos suprir. Isso vale para todos os setores humanos, da família, a amigos e trabalho. Há quem ache que não deveríamos esperar nada de ninguém, mas, esse outro extremo seria um desperdício. Melhor esperar de acordo com os acontecimentos. As ações vão construindo a confiabilidade.

Nós e a nossa mania de achar que todos são bons, uma insensatez que não deveríamos abraçar. Nesse particular, a polarização política serviu para separar os humanos dos desumanos, já que todos se sentem certos e inteligentes. Ainda assim, confiamos nas pessoas e isso nos leva rapidamente à decepção. Por cautela, não costumo confiar. Do mesmo modo que me levantam suspeitas uma chamada telefônica que começa com 011, também acho estranho alguém surgir me chamando por “apelidinhos” e derramando amabilidades. Desconfio, até o momento em que a pessoa me dê motivos para confiar nela. O meu natural é agir com os dois pés atrás. E para quem já me prejudicou, é impossível esquecer, ainda que possa perdoar e conviver de forma civilizada e quase harmônica.

Culpa é o sentimento mais inútil que há, ombreando-se com a preocupação. Estar preocupado é ficar paralisado no momento presente tentando mudar o futuro, e seu oposto é a culpa, cujo sentimento quer mudar o passado. Nunca conseguirá mudá-lo, daí a inutilidade desses dois desgastantes sentimentos. Segundo o livro “Seus pontos fracos”, de Dr. Wayne Dyer, de 1976, nós sentimos o que pensamos e pensamos o que queremos. De fato, com algum treinamento é possível mudar o pensamento, mesmo aquele recorrente e acelerado das madrugadas insones nos momentos dramáticos da vida.

A intenção da culpa, em tese, seria o arrependimento e a promessa de não errar de novo. Não costuma ter esse efeito, mas apenas atormenta quem dela sofre. O objetivo geral de aprisionar alguém gira em torno do binômio culpa/arrependimento, além da ressocialização do indivíduo que errou. Ele ficaria enclausurado um tempo, pensando no erro, sentindo culpa, se arrependendo, e então sairia melhor da prisão. Não é o que geralmente vemos. Sem contar as tantas vezes em que a Justiça erra, ou, quando em nome da justiça se comete injustiças.

Ler essas linhas serve para começar a pensar no tema e iniciar o treinamento de não pensar no que não deve. Quando vier o pensamento negativo, fuja dele. Imagine algo construtivo para colocar em seu lugar. No caso da preocupação, estatísticas mostram que poucos motivos de preocupações acontecem de fato. Então, precaver-se, estar atento, cuidar de cada coisa em seu devido tempo, é muito mais útil do que se preocupar. Quanto à culpa, a inutilidade é até absurda, pois já passou. Caso seja possível pedir perdão ou remediar, faça isso. Em caso contrário, esqueça! Sem deixar de se precaver, cuide apenas do dia de hoje.

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