Desaparecimentos

Mara Narciso - Médica e jornalista
Montes Claros
24/07/2018 às 06:21.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:33

Pessoa conhecida do mundo real e também contato do Facebook com a qual foram feitas interações, trocas e comentários desaparece da tela. Ao se visitar a página do excludente descobre-se a exclusão. Quando o perfil não é encontrado, significa que aconteceu o bloqueio, cujo motivo pode-se não saber nunca.

Os diferentes estão acostumados com a exclusão na escola, mas não se habituam. Continuam sofrendo a cada golpe. Só taxa de vitimismo a quem se queixa de perseguição e falta de oportunidade alguém que nunca sofreu discriminação. Por aqui não existia a palavra, mas o bullying sempre existiu, marcou pessoas e as tornaram invisíveis, uns verdadeiros fantasmas sociais. Não havia psicólogo, e em seu lugar aconteciam surras. A sociedade progrediu. Civilidade faz bem. Não há motivo para que se continue na idade da pedra em termos educacionais.

Uma pessoa posta na rede social “Não ter motivo para ficar, é um bom motivo para partir”. Mensagem que pode ocultar um suicida ou indicar o fim de um relacionamento. Frase erroneamente atribuída à Frida Kahlo: “Onde não puderes amar, não te demores”. Mentira, falsidade e fingimento grassam em todas as esferas. “Eu te amo” se esvaziou pelo uso indiscriminado. Pode significar até mesmo “eu gosto”. Isso devora pessoas, que somem em seus sofrimentos.

Depois de grandes erros levados a cabo pela civilização, milhares de espécies animais e vegetais extinguiram-se. Sem considerar as tribos indígenas desaparecidas. A perda torna a nossa espécie humana desumana em perigo. Mas o homo sapiens, em sua arrogância, mantém o mesmo comportamento e imagina que nada ruim, além do que já está exposto, acontecerá.

O óbito de alguém é sugerido pelo seu desaparecimento das ruas . Antigamente as mortes num grupo social eram divulgadas,e durante vários dias se falava no falecido. Ainda que as redes sociais tenham se tornado uma necrologia, um papel que era do rádio, muitos passamentos não são informados. Na Rádio ZYD7 ouviam-se: Nota de falecimento: “A família de fulano de tal cumpre o doloroso dever de comunicar o seu falecimento ocorrido hoje e convida parentes e amigos para o seu sepultamento amanhã, tal hora, no Cemitério Bonfim. O féretro sairá da rua tal, onde o corpo está sendo velado. A família enlutada agradece esse ato de fé cristã”.

A morte natural é um desastre, um susto que demora passar. É também o abandono de quem fica só nesse mundo e do corpo largado no cemitério. O desaparecimento de alguém, a certeza do nunca mais, o choro, o vácuo, a tristeza tudo é um absurdo. O falecimento é uma violência, um abuso, algo que a sociedade ocidental escamoteia, esconde, ignora e vive como se nunca fosse morrer. Esse hábito da negação traz um sofrimento ainda maior. Especialmente quando morre o amor da sua vida.

Para muitos a morte é o fim, para outros é o começo da glória celestial. Então, quando o espírito parte para outras evoluções, ou sobe aos céus para ficar ao lado do Criador, conforme as diversas crenças, ou das descrenças de quem entende que morrer é desligar-se e fim, quem fica tem de se reinventar e recriar uma nova existência, até que a morte os una.

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