Cuidados paliativos para o atendimento humanizado

André Filipe Junqueira dos Santos*
Hoje em Dia - Belo Horizonte
14/11/2018 às 05:49.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:49

Ainda pouco conhecido pela maioria da população, conforme definição da Organização Mundial de Saúde (OMS) atualizado, em 2002, o “Cuidado Paliativo (CP) consiste na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar para a melhoria da qualidade de vida do paciente e familiares diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, psicológicos e espirituais”. No meio clínico, esta forma de atendimento ganha força, mas ainda é pouco disponível no Brasil, apesar de representar uma assistência à saúde mais humana.

Existe ainda a visão errônea de que os Cuidados Paliativos devem ser aplicados somente em pessoas que se encontram nos momentos finais de vida. Uma equipe multidisciplinar de CP de qualidade, formada por psicólogos, enfermeiros, fisioterapeutas, médicos, assistentes sociais e outros profissionais, pode cuidar da dor, da falta de ar, das náuseas, da fadiga ou de outros sintomas e quanto mais cedo melhor. Além de aliviar os sintomas físicos, os Cuidados Paliativos também têm como foco a atenção a aspectos emocionais, como medo, ansiedade e depressão, comuns em pacientes e familiares em situações graves de saúde. E por fim, cuidar da espiritualidade do individuo, ou seja, ou o que lhe é sagrado.

Diversos estudos científicos demonstraram que quanto mais cedo se iniciam os Cuidados Paliativos melhor o controle dos sintomas, a qualidade de vida e, em algumas doenças, a sobrevida das pessoas. Essa abordagem também se reflete nos sistemas de saúde com o melhor gerenciamento dos recursos existentes. Em suma, os Cuidados Paliativos agregam valor ao sistema de saúde, pois aumentam a qualidade da assistência com redução de custos.

Dados da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) apontam que, dos mais de 5 mil hospitais no Brasil, apenas 10% disponibilizam uma equipe de CP. Existem 177 equipes no país, com mais de 50% dos serviços concentrados no Sudeste, enquanto apenas 10% (cerca de 13 equipes) atendem o Norte e Nordeste. Estudo feito nos EUA em 2016 pelo Center for Advanced Palliative Care (CAPC) revelam mais de 1.800 equipes atuando com Cuidados Paliativos, cobrindo mais de 75% dos hospitais com mais de 50 leitos.

Segundo dados da Aliança Mundial de Cuidados Paliativos (Worldwide Palliative Care Alliance (WPCA, 2014), atualmente, mais de 100 milhões de pessoas por ano teriam benefícios ao receber cuidados paliativos (incluindo familiares e cuidadores). Mas menos de 8% que precisam desse tipo de assistência têm acesso garantido. Infelizmente, ainda não existe no Brasila uma política de saúde pública que estruture ou oriente o desenvolvimento do CP. E entre as operadoras de saúde os Cuidados Paliativos ainda não são contemplados no rol de procedimento. Em relação à formação de profissionais de saúde com esse conhecimento, os cuidados paliativos não obrigatórios nos cursos de graduação.

A ANCP promoverá entre os dias 21 a 24 próximos, no Expominas, em Belo Horizonte, o VII Congresso Internacional de Cuidados Paliativos, com a presença de influentes especialistas do cenário brasileiro e internacional.

*Geriatra e vice-presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP)

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