Aedes aegypti ou Aedes brasiliense?

Leila Silveira* e Délcio Fortes**
18/05/2019 às 10:11.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:43

Parece que a cidade como o resto do País finalmente acordou para a tragédia que assola a nação. Era necessário, porém que o Carnaval, as férias escolares e a Semana Santa terminassem para que tomássemos consciência do tamanho do estrago que o odioso mosquito originário do Egito vem realizando em nossas plagas tupiniquins.

O Brasil sempre se comportou de forma subdesenvolvida no trato de suas grandes questões nacionais. Foi assim contra a saúva há um século e meio atrás com o bordão “Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil”, tem sido assim no enfrentamento da maioria das doenças contagiosas, na erradicação da varíola, febre amarela, tuberculose, malária, gripes, viroses, paralisia infantil, e assim será com relação à dengue, zika e chikungunya que nos atormentam atualmente.

A verdade é que as campanhas são necessárias e até vitais como no caso da AIDS. Somos especialistas em fazer mutirões, fazendo com que nossos governantes usem e abusem deste nosso traço de personalidade para só trabalhar nas crises, para só “apagar incêndios”. Todavia, da mesma forma que nos unimos, somos propensos a desistir, cruzar os braços, mudar o foco. Assim, a saúva não acabou, a AIDS está de volta e nos hospitais faltam médicos, leitos, remédios , sobrando doentes picados pelo famigerado mosquito.

Somos especialistas em eleger um culpado sempre que as coisas vão mal neste País... Mas, o que realmente nos falta é gestão... Os exemplos estão escancarados aí por todo o lado: nos desastres ambientais da Samarco e Brumadinho, na explosão da violência urbana, no caos na saúde, nos cortes na educação, na recessão econômica, no desemprego galopante... Beneficiados pelo clima moderado e natureza tropical, somos avessos ao planejamento, à persistência nas atitudes, abandonando esforços extras tão logo os resultados almejados começam a aparecer... É da nossa índole a procrastinação, a tolerância, a permissividade, a conivência...

A culpa não é do mosquito... Não é da responsabilidade dele o lixo nas ruas, a falta de saneamento básico, a água empoçada, o mato por toda a parte... Esse aedes não é do Egito... Esse é nosso mesmo, criado aqui nos nossos quintais abandonados, nas caixas d’água sem tampa, nas garrafas pet espalhadas pelas ruas, nos lixões das cidades, nos esgotos a céu aberto... Esse aedes é brasileiro, é meu, é seu, é nosso, que não cuidamos de nossas casas, que elegemos mal nossos políticos, que praticamos pequenas infrações, que permitimos o mal à nossa volta, que ajudamos a sustentar este modelo de sociedade injusta, egoísta e consumista.

Só ampliando nossa consciência, só mudando nossos hábitos, convicções e comportamento, poderemos vencer esta guerra, que mais do que contra um inimigo externo deve ser voltada para dentro de nossa própria mente, nosso próprio trabalho, nosso próprio jeito de construir a sociedade e o paraíso que um dia sonhamos habitar.

Cuide bem de você!
*Coordenadora do curso de Psicologia da Funorte e Diretora da TransformaSH Ltda.
**Engenheiro, Professor universitário e Consultor/sócio da TransformaSH Ltda.
 

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