A traição de José Dias

02/10/2021 às 00:04.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:59

Quando Fernão Dias Pais veio para o sertão norte-mineiro, ele trouxe consigo, além de Matias Cardoso de Almeida, alguns parentes: o sobrinho Francisco Pires Ribeiro, que era filho de Bento Pires e de sua irmã Sebastiana Dias Leite; o filho Garcia Rodrigues, o genro Manuel do Borba Gato, este que era casado com a sua filha Maria Dias Leite e também José Dias Pais, um filho natural – mameluco – que ele tivera antes do casamento, com uma bela índia goianá, e que o mesmo foi criado com muito carinho por dona Maria Garcia Betim, a sua esposa.

Entre os seus companheiros de confiança estavam Antônio Gonçalves Figueira, que era cunhado de Matias Cardoso de Almeida e José de Castilho, um arrojado sertanista não obstante ser um desconhecido no grupo, mas que recebeu a incumbência de iniciar a vila de Itacambira para receber, três anos depois, a comitiva da Bandeira. Também fazia parte desta expedição alguns índios seus da tribo goianá, de São Paulo.

A comitiva de Fernão Dias fez uma parada no serrote do Anhanhonhecanha, no lugar por onde o rio some, ou seja: o Sumidouro. Por lá eles ficaram um pouco mais de três anos, cultivando e armazenando os mantimentos para a custosa viagem até o pico do Itacambira. 

Entretanto, certa noite, “uma índia goianá casada, saindo fora da choupana, avistou luz na casa de José Dias e ouviu vozes alteradas, dando-lhe na curiosidade de ir à espreita do que ali se passava”. Ciente da situação, ela procurou o marido e os dois rumaram para a Quinta do Sumidouro, que ficava meia légua de distância do arraial, para avisar o seu “amo” do que estava acontecendo na choupana de seu filho. Imediatamente, Fernão Dias Pais foi até o local onde os rebelados estavam e constatou que o seu filho José Dias era mesmo o condutor do conclave com o propósito de matá-lo e depois, voltar para São Paulo. 

Era preciso enquadrar o seu filho com austeridade e assim foi feito, condenando-o à forca para servir de regra aos insurgentes do movimento. Disse Diogo de Vasconcelos que o velho bandeirante “apagando as lágrimas dos olhos, mandou enforcar o filho! Não sabemos, todavia, se a história o absolverá”.

O corpo de José Dias ficou exposto sobre uma esteira em chão de terra batida como aviso aos demais membros da expedição, enquanto isso os envolvidos foram expulsos do convívio dos bandeirantes, sem o direito de algum dia regressar. 

José Dias administrava o arraial, entrementes o velho Fernão Dias repousava numa choupana na Quinta do Sumidouro. 

Sabe-se que os insurgentes acamparam na região de Sete Lagoas, que depois foi ali transformado num pequeno arraial (Sete Lagoas). Nota-se que o enforcamento do mameluco José Dias ocorreu na região do Sumidouro (Sabará) e nunca em Juramento, como querem alguns estudiosos. 

Na verdade, quando Fernão Dias voltava da Serra Resplandecente (ou da Lagoa do Çabará-buçu), em Itacambira, com as pedras verdes, houve um prenúncio de revolta na comitiva, que o conduziu a fazer um juramento na região de Sete Passagens, de punir quem lhe ousasse a traição, com o mesmo castigo imposto ao seu filho.

Morreu Fernão Dias nos braços de seu filho Garcia Rodrigues, em maio de 1681. Conta a nossa história que o corpo do bandeirante foi embalsamado e levado para São Paulo, onde foi sepultado no mosteiro de São Bento. Há controvérsia, porque existe neste final uma interrogação.

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