A história natural da colonização brasileira nasceu com a presença do português Diogo Álvares Correia, que era conhecido no recôncavo baiano pelo nome de Caramuru. Foi ele o responsável, em grande parte, pela projeção habitacional no litoral brasileiro. Com a chegada do primeiro governador geral do Brasil, Tomé de Souza, a contribuição de Caramuru foi de grande valia para a criação da Cidade da Bahia (Salvador) e o reconhecimento do sertão da caatinga, haja vista que ele conhecia o interior da província e, também, a lenda das esmeraldas dita pelos índios de sua convivência.
Assim, no dia 29 de março de 1549, Tomé de Souza inicia a construção da cidade na enseada da baia de Todos os Santos “com o especial concurso de Caramuru, benfazejo vulto, que assistiu à iniciação de nossa pátria, desde os mais remotos tempos históricos”.
Era preciso uma investigação mais pormenorizada da hinterlândia, então quase desconhecida pelos portugueses, até aquela época. Para tanto foi convidado o sertanista espanhol Francisco Bruzza de Spinoza, que tinha muita experiência nas minas de prata do Peru, para essa importante diligência.
Então, com a companhia do jesuíta João de Aspilcueta Navarro era iniciada a expedição exploradora que tanto desejava o governador Tomé de Souza. A expedição de Spinoza “efetivamente se pôs em marcha nos primeiros dias do governo de Duarte da Costa” não tendo Tomé de Souza o prazer de assistir o embarque dos sertanistas na procura das famosas pedras verdes.
Como já aludimos, foi Caramuru o informante a respeito dos sertões e isso aconteceu quando ele esteve refugiado na capitania de Ilhéus, tempo em que obteve com os tupinaki as notícias alvissareiras das pedras verdes (Itaobim – as esmeraldas) de que já sabia pelos tupinãbá, do recôncavo.
O padre Navarro tinha a obrigação de registrar todos os acontecimentos da jornada. Em documento ele narrava, com maestria, todos os acontecimentos para os arquivos da Companhia de Jesus, dizendo que... “internaram-se os sertanistas, como convinha a um país inteiramente desconhecido, com todas as cautelas; e, depois de muito andarem, chegaram ao rio Grande (Jequitinhonha), de onde subiram e prolongaram uma dilatada serra, até onde nasce o rio das Ourinas (Rio Pardo), daí seguiram a um rio caudalosíssimo (Rio São Francisco), do qual retrocederam exaustos; e também porque, apesar de números de índios, a comitiva só podia contar com doze companheiros” (Carta do provincial, datada do dia 24 de junho de 1556).
Ainda sobre as anotações do padre Navarro é fácil identificar os aspectos físicos e geográficos da região pela descrição feita por Diogo de Vasconcelos. Vejamos: “A dilatada serra que prolongaram, foi a do Grão Mogol, da Itacambira, das Almas, nomes diversos: serra por aonde se vai do Serro os Montes Altos do sertão baiano”.
Assim, fica evidente a presença de Spinoza em território de Montes Claros. Não foi por acaso que Diogo de Vasconcelos disse que “Spinoza foi o primeiro conquistador, que pisou em nossa terra e o Padre Navarro o primeiro apóstolo, que nela proclamou a nossa religião”.
Em vista disso, o povo generoso da Vila dos Lençóis do Rio Verde, carinhosamente, homenageou o sertanista Francisco Bruzza de Spinoza, batizando o lugar com o seu nome – Espinosa – quando ocorreu a instalação da vila, como cidade, no dia 18 de setembro de 1920. Parabéns, Espinosa, a terra do nosso confrade Daniel Antunes Junior!