Viagem ao passado, sem arrependimentos

17/08/2021 às 00:06.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:41

Uma vida em linha reta e plana deve ser de uma chatice sem precedentes. Numa existência assim, o tédio impera. Viver ou existir? Em geral, se não há uma tragédia, como a perda de um filho ou de algum familiar de forma violenta, vidas diferentes podem ter muitos pontos em comum, com subidas, descidas, curvas fechadas e outras suaves. Afinal, muitas vidas terão tido delícias e dores.

As pessoas costumam se fixar mentalmente nas fases dolorosas, ao invés de valorizar o que foi bom ou regular. Muitos têm essa mania de sofrer.

Nessa louca pandemia, quando poucos procuram lugares públicos para lazer, com menos situações de deslocamentos do que na época de normalidade, sobra tempo para pensar, mesmo entre os que evitam fazer isso.

“Não, não, não posso parar, se eu paro eu penso, se eu penso eu choro” (Moacyr Franco, David Nasser). Alma desocupada pensa e algumas mentalizações algo filosóficas têm povoado a cabeça de muita gente, assim como visitas ao passado.

Quando se trata de lembrança marcante, o tempo ocioso convida a se ficar remoendo coisas antigas, em especial as desagradáveis de se lembrar. Caso tenha sido cena forte, volta e meia reaparece. Abandono, pouco caso, maus tratos, acusações e injustiças são perdoáveis, porém inesquecíveis.

Não é raro uma pessoa de destaque na vida de alguém acusar, julgar, condenar e apenar um inocente. Há situações de desagrado tão graves, que a lembrança paira feito fantasma. 

As marcas profundas causam dor, mal sejam lembradas. Perseguições e ofensas pesadas abrem feridas que, se mal fechadas, as lembranças rasgam o peito e voltam a sangrar.

Analisando o fato, percebe-se que há elementos que foram pouco valorizados e, se lembrados, amenizarão o erro alheio. 

Outra coisa a considerar é a variação de pontos de vista. Dependendo da maneira em que se vê o episódio, este poderá não se alterar, mas a maneira de senti-lo sim.

Espiar o passado de forma leve, sem remorso e com a sensação de dever cumprido é flertar com a plenitude. Podem-se fazer as pazes com maus momentos e com pessoas que agiram mal.

A pacificação com o passado traz alívio. Perdoar-se e perdoar pessoas ruins em tempos pretéritos é largar para trás bolas de ferro e correntes atadas aos pés, e, finalmente ser livre.

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