Walmath Magalhães
Economista e Analista Técnico Sebrae Minas
O que tenho mais ouvido durante conversa com amigos, clientes do Sebrae e encontros de família é: “Você, que é economista, consegue explicar o porquê de os preços estarem nas alturas?”.
Adianto que este breve relato não tem como propósito elucidar de forma didática o que está acontecendo na economia ou apresentar soluções. Apenas lanço mão aqui de algumas considerações e reflexões necessárias para nos situarmos sobre nossa condição de agentes econômicos – sim, somos também agentes econômicos, pois, sobretudo, somos consumidores.
Já vínhamos numa trajetória de sucessivas crises econômicas ao redor do globo e, no Brasil, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) fechou 2020 em 4,52%, o maior percentual desde 2016.
Não por acaso, as geladeiras da população mais pobre – geralmente a mais exposta às crises econômicas e a primeira a sentir seu reflexo – revelam o momento difícil que atravessamos. O Índice Geral de Preços do Mercado (IGPM), por sua vez, acumula alta de 31% em 12 meses e os responsáveis por isso são os alimentos (arroz, carne, batata, óleo de soja) e os combustíveis (gasolina e diesel), que acarretaram aumento de frete e geraram o efeito dominó que já conhecemos.
Ou seja, o fantasma da inflação voltou a sentar na cabeceira da mesa da família brasileira – e não paga a conta.
É consenso entre especialistas da área das ciências econômicas que o grande fenômeno de ordem global que desestabilizou as contas públicas de centenas de países, povos e nações foi, contudo, a pandemia da Covid-19 e, especialmente, a maneira como cada país a enfrentou – isso, sim, foi determinante.
E a lenta recuperação dos empreendimentos após a flexibilização das regras de distanciamento social, que possibilitou a reabertura das empresas, veio junto da retomada da demanda com mais força, gerando, assim, mais aumento de preço, devido a insuficiência na oferta.
Aumento na procura e escassez na oferta geram aumento de preço. Inflação é perda da capacidade de compra.
E como há grandes potências (países ricos em ativos financeiros, tecnológicos e humanos) comprando muito, nossa produção de commodities é completamente escoada para o mercado internacional.
E enquanto nossa balança comercial fica no azul, isso acarreta inflação no preço de produtos mais básicos, atingindo os pequenos negócios e a população mais pobre, que, tristemente, ainda compõe em grande parte a massa dos 14 milhões de pessoas sem trabalho.