Desobediência nos faz humanos

Leila Silveira e Délcio Pontes
Montes Claros
07/07/2018 às 07:31.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:16

Tudo começou no gênesis com Adão e Eva.

Se o casal não tivesse desobedecido às proibições divinas, a história humana não começaria a ser escrita naquele dia.

Todas as revoluções com ou sem banho de sangue tiveram seu estopim num ato de indignação, de revolta, de contestação. 

Mesmo as manifestações de desobediência civil mais pacífica como as de Gandhi e Luther King tiveram seu mote no protesto, na recusa, na insubordinação.

Numa época de cultura pasteurizada, de comunicação massificada, de informação anônima e difusa, o perigo da obediência sem crítica, de julgamentos sem contraditórios, de condenações sem provas, de pensamento único e homogêneo é cada vez maior.

É falso acreditar que a quantidade maciça de informações disponíveis nos dá maior segurança de conhecermos a verdade e tomarmos partido. Ao contrário, a capacidade intelectual mede-se pela sua manifesta oposição ao “status quo”, à sua capacidade de se subtrair do envolvimento fácil e superficial em torno do consenso e do senso comum. Não há nenhum mérito ou necessidade de esforço para se concordar com o pensamento dominante, seja ele qual for.

Felizes daqueles que ainda conseguem se livrar da ignorância fabricada pela mídia hegemônica, que não professam a crença de que “se não saiu no Jornal Nacional não aconteceu de fato ou não é verdade”.

Felizes aqueles que ainda encontram tempo e gosto por trocar uma verdade cristalina por um mar de incertezas, que preferem trocar uma resposta pronta por um argumento alternativo, que ousam abandonar os jargões manipuladores da sociedade consumista por um pensamento novo, por uma ideia estranha, por um conceito caótico.

Felizes aqueles que trocam a aridez e a pobreza do debate atual das mensagens, das postagens, dos comentários e das curtidas por um punhado de livros, de ensaios, de história, de antropologia e de filosofia, à procura de insights mais profundos, de cores mais vivas, de terrenos mais férteis, de voos mais altos, de tons mais sutis, de rédeas mais soltas, de primaveras mais generosas.

Creio que hoje em dia melhor que dar uma resposta é saber dar ouvidos. Parar em vez de seguir. Questionar em lugar de aceitar!

Melhor do que manter a zona de conforto é mudar o paradigma.

É ver de cabeça para baixo, é inverter o processo, é provocar a inquietação.

O navio está seguro no porto. Mas não foi para isto que o construímos.

Afinal, viver é uma arte. Seu valor está no grau de estranheza que ela provoca!

Cuide bem de você!

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