
Nesta quinta-feira (27), representantes de comunidades rurais participaram de audiência pública na Câmara Municipal de Montes Claros, para cobrar soluções da Cemig para as frequentes quedas de energia. A audiência pública foi proposta pela Comissão de Agricultura da Câmara Municipal e, segundo o vereador Marcos Nem (PODE), membro da comissão, “a audiência atende a um abaixo assinado com mais de 500 assinaturas, de pessoas de diversas comunidades rurais. Esperamos que seja feito um trabalho efetivo, principalmente em relação aos pequenos produtores”.
Lilian Souza, presidente da comunidade rural de Recanto da Seriema, distante 19 km de Montes Claros, conta que só na sua região, são aproximadamente 60 famílias prejudicadas por essa oscilação. “Já queimamos a bomba da Associação por diversas vezes, inclusive uma bomba que estava emprestada para a comunidade. Sem contar os eletrodomésticos perdidos devido aos picos de energia e às vezes ficamos mais de três dias sem luz. O produtor rural já é forçado a trabalhar com baixo custo, para conseguir trazer a produção para a cidade. Quando ele consegue juntar um montante, que é difícil e sofrido, tem que vir para a cidade comprar novos aparelhos”, disse Lilian.
Otaviano Pires Neto, representante da Sociedade Rural na audiência, e mais especificamente dos produtores de leite da região, pontua dificuldades provocadas pela falta de energia elétrica e desatenção da Cemig, que não estaria arcando com o prejuízo. O setor leiteiro, segundo Otaviano, é arduamente afetado, desde a ordenhabilidade da vaca-leiteira, sendo um processo automatizado, até o armazenamento. “Uma vaca que não é ordenhada no seu momento exato, na primeira, segunda ou até terceira ordenha do dia, apresenta muitas doenças. Impacta a saúde da vaca, impacta a produtividade, impacta o produtor que tem que comprar medicamento para tratar dessa vaca, e, além disso, quando a vaca não é ordenhada no momento certo, nas horas certas do dia, ela vai perder a sua produção ao longo do tempo. O leite já produzido vai ser armazenado na fazenda e precisa ser refrigerado”, explica.
Conforme o produtor, as indústrias, cooperativas e laticínios coletam leite a cada dois dias, sendo que alguns coletam a cada seis dias. “O leite precisa ser armazenado na fazenda por todo esse período em três graus, senão ele vai perder, vai azedar e não vai ter nenhuma função como alimento humano. Em resumo, a cadeia produtiva do leite depende muito da energia elétrica”.
O gerente de distribuição regional da Cemig, Matheus Amaral, recebeu as reclamações das comunidades durante a audiência e garantiu que elas serão levadas e tratadas com suas particularidades. A Cemig justificou que foram feitos investimentos nas áreas mais demandadas e que a programação de investimento para um ciclo de cinco anos, que começou em 2023, é três vezes maior do que o último ciclo. A intenção, conforme o gerente, é trazer maior confiabilidade. “Algumas comunidades já foram agraciadas com a energia de maior qualidade e, em breve, outras sentirão as mudanças”. Questionado sobre prazos, ele disse que “no tiro curto, o trabalho é com foco na manutenção preventiva, ou seja, limpeza de faixa, poda de árvore e inspeções. Trabalho que permite à gente passar por essa rede, identificar problemas e atuar preventivamente”, assegurou.
Sobre a burocracia para ressarcimento de prejuízos, situação também reclamada por moradores, o representante da Cemig afirmou que a concessionária cumpre o que é previsto pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e não tem autonomia para implementar mudanças.
A audiência teve como resultado a produção de dois requerimentos. O primeiro, para que a ata da audiência seja encaminhada à diretoria da Cemig. O segundo pede um plano de investimento detalhado por região, para dar ciência aos moradores sobre o andamento das ações.
Ao final da audiência, Lilian Souza voltou a falar com a reportagem e ressaltou que sua expectativa é que, desta vez, a mobilização produza resultados. “Espero que seja diferente, que não fique apenas na palavra, porque já tivemos diversas audiências e até agora, nenhuma solução. Só vendo para crer”, sinalizou.