Samuel Nunes


Repórter

A partir de hoje, O Norte inicia uma série de reportagens sobre o vício do crack, um flagelo que assola o país de norte a sul e que em Montes Claros já se espalhou por diferentes classes sociais. A cidade já registra mais de 30 mil dependentes.

Joana A. diz que é triste admitir, mas, em seis meses já gastou cerca de 20 mil reais comprando drogas, principalmente o crack

Em todo o país, os serviços de atendimento a dependentes químicos relatam que mais e mais pessoas, independentemente da classe social, vêm nos últimos anos procurando ajuda para se livrar do vício do crack. A droga já é a segunda maior causa de procura por atendimento nos centros do SUS especializados em abuso de álcool e drogas, o CAPS-AD. Nesses locais, o crack só perde para a bebida.

O CRACK

Droga derivada da cocaína, o crack está se tornando um flagelo nacional, espalhada pelo país em diferentes classes sociais. Pesquisa de campo realizada pelo projeto Águia, centro de recuperação salvando vidas, no bairro Major Prates, constatou que em Montes Claros há em torno de 30 mil dependentes químicos, dentre os quais, 30% do sexo feminino.

Luiz Henrique Xavier Pimenta, idealizador da pesquisa e presidente do projeto observa que, pela ordem, as drogas que permeiam todas as classes sociais e faixas-etárias são o crack, cocaína, maconha e ecstasy.

A reportagem de O Norte conversou com dependentes químicos, em sua maioria viciados em crack, pela facilidade com que pode ser comprado em praticamente todos os bairros da cidade. O cenário epidemiológico do crack no Brasil, segundo o Cebrid - Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, aponta que 8,6% dos jovens de 9 a 18 anos consomem essa droga.

ORGANIZAÇÃO

Como todo uso de drogas está associado a fatores biopsicossociais, o consumo de crack não é diferente. Joana A, nome fictício de uma dependente química de 33 anos explica que a pedra de crack é vendida geralmente por R$ 5 em todo o Brasil. Segundo ela, nenhuma outra substância ilícita tem semelhante poder de dependência como à pedra de crack, que é derivada das sobras do refino da cocaína.

Joana A diz que em Montes Claros a droga é comercializada, e inserida em todas as classes sociais e não tem um local próprio para consumo entretanto, ela afirma que isto pode acontecer em praças, em festas, cabarés e motéis e pode ser comprada facilmente na chamada boca de fumo, local onde ela diz que é feita a venda de substâncias ilícitas como maconha, cocaína e crack.

Segundo ela, os produtos são normalmente vendidos por menores e os cosumidores geralmente são clientes usuários pertencentes a todas as classes sociais.

Devido à necessidade constante de usar a droga, característica do crack, Joana A sem precisar quanto revela que o usuário acaba comprando várias pedras em apenas um dia. Ela afirma que para manter o vicio já chegou a vender dois aparelhos de TV, 39 polegadas, cada uma, por apenas R$ 100,00. Lembra do inicio do vicio que começou a cerca de seis meses onde chegou a gastar no primeiro dia em poucas horas cerca de R$ 500,00.

- É triste dizer isto, mas, em seis meses já gastei cerca de 20 mil reais comprando drogas, principalmente o crack que considero a droga da morte. É importante salientar ainda que a quantidade de droga é adquirida e consumida aos poucos, o viciado vai várias vezes à boca de fumo para comprar a droga, tem usuário que chega a consumir até 15 pedras de crack. Nem sempre há dinheiro para comprar tudo que pensa consumir. Então, se consegue os R$ 10, 00, compra apenas uma, ao passar o efeito a volta em qualquer horário do dia é certa para se comprar a droga, garante.

Na próxima edição, a série de reportagens mostra como é o relacionamento dos usuários e o impacto da droga no corpo e ainda como o crack tem destruído também a vida de pais de famílias, onde todo o salário que poderia ser empregado para o sustento da família é usado na compra desta droga.