Manoel Freitas
Repórter
Embora nem mesmo a ATCMC - Associação das empresas de transporte coletivo urbano de Montes Claros não saiba precisar, estima-se que – pelo menos – um terço de todo o vale-transporte distribuído pelos empregadores, por força de Lei Federal, passem na cidade pelas mãos dos cambistas. Só na praça Dr. Carlos, onde existem dois terminais de passageiros, atuam mais de 50 cambistas, embora o mercado negro seja dominado por poucas pessoas, que normalmente usam como intermediários, tanto para compra como para venda, ambulantes que vendem outros produtos e que se instalam em pontos estratégicos da praça.
A reportagem tentou, sem sucesso, ouvir um dos grandes revendedores que domina o mercado. As informações colhidas dão conta de que ele chega antes das seis horas da manhã, distribuiu os vales-transporte e só retorna ao local para recolher o dinheiro arrecadado e repor o estoque dos bilhetes, tarefa que só termina às 20 h.
NECESSIDADE
Uma das cambistas que mais compra e vende vales-transporte no local é Yara Queiroz, de 36 anos. Alega que entrou no ramo por estar desempregada e ter dois filhos para criar, lembrando que a maior preocupação da classe, hoje, não é a posição contrária da ATCMC ao comércio que, por força de lei, é ilegal uma vez que os compradores nunca sabem a origem dos vales adquiridos, mas sim à possibilidade da implantação do cartão magnético.
É que a inovação prevista pelas empresas concessionárias, implantada com sucesso em Belo Horizonte e em algumas cidades de porte-médio de Minas Gerais, acabaria em definitivo com a atividade que, segundo Yara Queiroz, garante em Montes Claros o emprego informal de mais de 150 pessoas –
- O que seria uma verdadeira tragédia para muitos pais de família.
LUCRO DE ATÉ 20%
Ainda falando em nome da categoria, a cambista Yara Queiroz diz que o preço de revenda do vale-transporte é sempre R$ 1,20, ou seja, R$ 0,05 mais barato do que os empregadores adquirem diretamente da associação que representa a Transmoc e a Alprino. Justifica, ainda, que o câmbio informal – também – acaba por facilitar o troco, uma vez que, sobretudo nos horário de pique, é comum os usuários do transporte coletivo serem até mesmo barrados no ato de atravessarem a catraca, pela inexistência de moedas no volume demandado.
Já em relação ao preço de compra dos bilhetes, normalmente vendidos aos cambistas por empregados que percorrem o percurso a pé para incorporar o ganho ao salário, a cambista revela que o valor oscila em relação ao montante adquirido.
- Mas normalmente os compramos a R$ 1,10 e R$ 1,15.
No entanto, a reportagem constatou que, quando são adquiridas poucas unidades, os cambistas pagam, em média, R$ 1 por unidade, o que lhes asseguraria um ganho na revenda de 20%.