Em tempos de Covid, o alívio que poderia ser trazido pelo Carnaval em Montes Claros e região foi adiado. Mas a alegria, as fantasias e as histórias são os meios encontrados por alguns para compensar a falta da festa.
Quem participou de bons carnavais na década de 80, por exemplo, vai se lembrar dos animados desfiles das escolas de samba pelas avenidas de Montes Claros, em especial da Vanguarda Imperial. À frente, o saudoso empresário e carnavalesco Geraldino Coelho.
“Hoje temos a questão da pandemia, mas quem sabe aparece por aí um sonhador como meu pai que traga de volta o brilho e o esplendor do Carnaval de rua que merecemos”, diz a professora de ensino superior e maquiadora Valdeli Coelho, filha de Geraldino Coelho.
Ela conta que Geraldino sempre foi um homem à frente do seu tempo e um visionário, literalmente, um homem de vanguarda. Não foi à toa que a escola de samba tinha o nome de Vanguarda Imperial.
“Meu pai foi um homem do povo, alegre e que queria inserir Montes Claros nos roteiros turísticos, uma vez que a cidade não oferece lazer. O povão não tem onde se divertir. Com o Carnaval era possível levar a diversão e a beleza da escola ao povo. Não sei exatamente quando nasceu o sonho, mas se tornou realidade na década de 80. A escola levou o sonho, o samba e o luxo para as ruas de Montes Claros por uns 10 anos ainda”, diz.
Sem a ajuda financeira da prefeitura da época, Valdeli conta que se tornou difícil manter a escola. O pai bancava tudo do próprio bolso. As fantasias eram confeccionadas no barracão onde também ocorriam os ensaios da bateria. A confecção delas empregava muitas costureiras por meses, até chegar o carnaval.
“As fantasias de destaque, meu pai comprava das escolas de samba do Rio de Janeiro, principalmente as do Salgueiro. E os carros alegóricos eram comprados também das escolas do Rio. As escolas têm um ‘cemitério’ de alegorias gigantescas e os interessados buscavam ali adereços e carros”, revela.
Eram leões gigantes, cavalos marinhos, entre outros. Por diversas vezes, ela acompanhou o pai e subiu em morros para conhecer a estrutura de algumas escolas de samba.
Em uma dessas viagens, conheceram o compositor e puxador de samba Wilson Simonal, que acabou vindo para Montes Claros. Foi Geraldino quem custeou as despesas dele na cidade.
“Meu pai, Simonal e outros montavam os enredos, as alas e o samba. Meu tio Emerson desenhava os figurinos das alas de acordo com o enredo que iria para avenida. Tudo era bastante pensado e era uma grande equipe. Quanto a premiação era apenas simbólica, um troféu”, diz.
Ao lado de Geraldino, em todos os anos, estava a esposa Vanda Coelho, sempre envolvida com a montagem da escola todos os anos. A casa da família era um entra e sai de gente.
“Muita comilança e cervejada para o povo. Todos os momentos foram felizes. Meu pai vibrava com a chegada de turistas que vinham para conhecer o Carnaval de Montes Claros”, conta.
Questionada se gostaria de ver tudo aquilo acontecer em Montes Claros, ela diz que não acredita que o Carnaval naquele estilo que o pai trouxe para a cidade volte algum dia.
“É preciso ser um apaixonado pela alegria e ter disposição para gastar, porque não havia naquele tempo nenhuma instituição que financiasse os gastos. Acredito que hoje seja pior ainda. Saudades sempre a gente tem, é claro, principalmente da alegria do meu pai e do meu avô Vavá, que em todos os anos estava na comissão de frente. A família toda se envolvia, inclusive os que não moravam aqui. É triste que Montes Claros tenha caminhado para trás no quesito de oferecer diversão ao povo. A cidade carece de entretenimento, de lazer”, afirma.