Anny muriel
Repórter
Pela manhã, a superlotação nos centros de saúde não é nenhuma novidade para a população de Montes Claros, onde o assunto diário é o caos nas casas de saúde. Na manhã desta quinta-feira 13, o plantão O NORTE retornou ao posto de saúde do Bairro Maracanã para saber como anda o atendimento naquela unidade. As respostas foram unânimes: falta de profissionais, demora no atendimento, marcação de consultas e autorização de exames, além da falta de diálogo com clareza e acolhimento no atendimento à população.
Pelo menos trinta pessoas estavam no local por volta das 07h40. Uma delas, a dona-de-casa Altina Santos, 50 anos, é costureira e mora no bairro. Logo pela manhã, ela foi tentar mostrar um exame para o clínico geral.
- Aqui está difícil demais para conseguir atendimento. Este exame mesmo, eu agendei na segunda-feira e só hoje consegui um jeito para poder mostrar o médico. Só para mostrar um exame é um caos, e agora vou ter que aguardar um tempo até atender todos estes que vieram consultar - diz a costureira, que chegou ás 7h da manhã.
Seu Clemente Neri Santos, 58 anos, morador do Bairro Nossa Senhora das Graças, relata que sempre houve muita demora para o atendimento a quem vai apresentar os exames e, mesmo chegando mais cedo, ainda é preciso esperar pelos outros que vão consultar.
- O que eu percebo é que, para amenizar a situação de quem vai só mostrar exame, por exemplo, o que não deixa de ser uma consulta também, o atendimento deveria ser diferenciado, porque às vezes uma consulta é mais demorada e os exames não. No caso, seria apenas o resultado que o médico passaria para a gente e, pronto, estaria liberado. Mas, não, fica tudo misturado, o que toma por demais o tempo da gente. E sem falar que, só para conseguir mostrar, demora tanto que, quando pensa que não, já é o tempo de o médico pedir outros exames - afirma Clemente Santos.
O aposentado foi ao centro de saúde para apresentar ao médico os exames de colesterol, sangue e urina de rotina, além de próstata. Ele disse que, se aumentasse o número de médicos, diminuiria a demora no atendimento.
Há queixas dos moradores e usuários também em relação aos meses que aguardam por autorização de exames. A vendedora Cilene Alves afirma que há cinco meses tenta uma endoscopia para seu filho que sofre com constantes dores no estômago, o que a deixa preocupada, com medo de que seja uma forte gastrite, que se não for diagnosticada e tratada a tempo, pode ocasionar numa úlcera.
- Eu estou tentando desde dezembro conseguir esta autorização para realizar a endoscopia do meu filho. Só que, até hoje, nada. Sempre falam que por agora a secretaria não está marcando este tipo de exame, e para pagar particular eu não tenho condições, se não, já havia feito. Mas, vou esperar. Uma hora eu consigo – disse, esperançosa.
Segundo a vendedora, uma mudança no sistema de atendimento que facilitasse a vida do usuário seria benéfico para todos. A agilização das autorizações para marcação de exames, por exemplo.
Já a dona-de-casa Terezinha de Fátima Soares, 55 anos, moradora do bairro, ao sentir fortes dores pelo corpo, além de vômito e febre, procurou atendimento no posto de saúde mais próximo de sua casa
- Eu estava tão indisposta com as dores que estava sentindo, e ainda estou, que resolvi logo procurar um médico aqui no posto mesmo. Aí eu consegui agendar aqui no Maracanã na semana passada para ser atendida hoje. Cheguei às 6h para consultar com o único clínico que para mim é o melhor do posto, Dr.Carlos. Mas, mesmo assim, o atendimento para médico é precário, é muito pouco para atender tanta gente de vários bairros próximos. Se tivesse mais médicos e os outros não faltassem tanto, o atendimento seria bem melhor – afirmou.
A dona-de-casa disse ainda que na semana passada teve que voltar para casa sem atendimento para seu filho, que estava com febre há três dias, pois os funcionários alegaram terem acabado as fichas que já haviam sido distribuídas.
A solução foi buscar atendimento no hospital Alpheu de Quadros, onde constatou que o filho estava com infecção na garganta, que havia provocado a febre.
A estudante Denise Barbosa, 17 anos, foi encaminhada pelo PSF do bairro. Já havia algum tempo que ela esperava para mostrar o exame.
- Eu já estava quase desistindo, mas minha mãe conseguiu agendar com os agentes de saúde da família aqui no bairro. Até que enfim, depois de quatro meses que o médico pediu o exame de ultrasom vou conseguir mostrar e saber o resultado - afirma a estudante, que chegou ao posto às 8h e aguardava para ser atendida.
Segundo relato de usuários que estavam no local, foram distribuídas pela manhã apenas quinze fichas para pediatra. Muitas mães voltaram para casa sem conseguir uma consulta para os filhos. Os funcionários disseram que só seriam atendidos os pacientes que haviam agendado no dia anterior.
A paciente Viviane Aparecida Soares Reis, 37 anos, disse que foi ao posto levar sua pequena filha para tomar a segunda dose da vacina H1N1. Ela aproveitou a presença da equipe para desabafar sobre um caso grave que aconteceu com sua cunhada.
- Há uns três meses, minha cunhada perdeu o bebê que nasceu com má formação, e isso acarretou um problema no útero dela. Ela já veio aqui no posto umas duas vezes passar um remédio na região genital para ver se haveria melhora. A médica responsável falou que não iria mais cuidar do caso dela, uma vez que percebeu que o caso era grave e necessitava de acompanhamento de um especialista, mas que no posto não havia especialista responsável para esse caso. Disse a ela que procurasse um hospital. Ela tem apenas vinte e seis anos e para tentar particular no momento ela não pode. Se houvesse especialistas nas unidades básicas de saúde o problema seria resolvido de forma mais rápida. Mas, não, tudo que a gente tem que depender de posto é muito duro, é castigante o que a gente tem que passar aqui e nos outros postos de saúde da cidade também. Um verdadeiro descaso com o povo - disse.
Ainda segundo Viviane Reis, a vítima é anêmica e a grande preocupação da família é que ela esteja com câncer de colo de útero.
Na porta que dava acesso ao setor de marcação de exames, havia cerca de 30 pessoas que aguardavam desde às 6h.
- Eu cheguei aqui às 6h20 para tentar marcar exames de hemograma completo, urina rotina, ultrasom abdominal e creatina. Só que, mesmo sabendo que começa a atender às 8h, eu resolvi vir mais cedo. É tanto que sou a primeira da fila – afirma a estudante Vanessa Thaís Ferreira Santos, 26 anos, moradora do Grande Maracanã.
Evanilde Mendes, 32 anos, moradora do Conjunto José Corrêa Machado, foi ao posto na quarta-feira agendar uma consulta com pediatra para seu filho, de três anos. Ele está gripado e com baixo peso.
- O ruim daqui é este negócio de marcar consulta de um dia para outro. O ideal é que a criança ou adulto seja atendido no mesmo dia, porque doença não espera, não. E sem falar que ter de dormir ainda em porta de posto para conseguir ficha, isto já devia ter acabado há tempos. A violência está demais para continuar neste sistema antigo - diz.
Para Evanilde, uma mudança na distribuição de fichas, além do aumento no número de profissionais em todas as áreas, seria uma ótima opção para melhorar a prestação de serviços da unidade.
Segundo o secretário municipal de Saúde, José Geraldo Drumond, os serviços de urgência e emergência serão implantados nos postos de saúde a fim de diminuir o fluxo de pacientes nos grandes hospitais.
Justamente nesta manhã de quinta-feira, gestores da saúde se reuniram na câmara municipal de Montes Claros para uma audiência, com o intuito de discutir a situação da saúde na cidade.