Anny Muriel
Repórter
O plantão O NORTE esteve no centro de saúde do Bairro São Judas, na manhã de sexta-feira, 21. A falta de médicos e aparelhos deixou revoltados os usuários, alguns dos quais chegaram às 6h da manhã. Nem mesmo aparelho para aferir pressão arterial havia no local.
- Cheguei aqui às 6h30 porque estou sentindo muita dor no peito, e aproveitei para pegar uma guia porque preciso fazer fisioterapia respiratória. Devido a uma operação de quatro pontes de safena, sinto constante falta de ar e dor no local, só que uma funcionária simplesmente virou para mim e disse que pelos sintomas eu estava com pedra na vesícula sem ao menos me examinar. Estou esperando até agora e ainda não consegui ser atendido em nada que estou precisando. Eu acho um absurdo, ainda mais nesta idade, pois já estou idoso, ter que passar por uma situação dolorosa desta - desabafou o aposentado Carlos Roberto Oliveira, 59 anos, morador do Bairro São Judas Tadeu.
Carlos Roberto não conseguiu aferir a pressão, porque o aparelho estava quebrado. Segundo informaram, o aparelho telefônico do posto também não estava funcionando.
Por volta das 8h, 10 pacientes ainda aguardavam atendimento, quando foram surpreendidos pela informação de que o clínico geral não atenderia mais.
- Aqui está uma vergonha. O que estão fazendo com a gente é um verdadeiro descaso. Já é a segunda semana que venho aqui tentar marcar uma consulta e não consigo, estou com um problema no pé e nem sei ao certo o que é. Sem consultar fica difícil descobrir o que é este corpo estranho. E sem falar que os funcionários não têm sequer educação para esclarecer as nossas dúvidas, tratam a gente como se estivessem prestando um favor, o que na verdade não é, temos direito a tratamento de saúde com qualidade e respeito - disse a auxiliar de contabilidade Júnia Pereira de Souza.
Para a auxiliar, não há empenho da gerência para solucionar o problema. Júnia afirma ainda que a qualificação dos funcionários amenizaria a situação.
A dona de casa Adenise Roberta Gonçalves, 62 anos, moradora do Bairro Vila Guilhermina, disse que há dez anos frequenta o posto de saúde do Bairro São Judas, mas nunca viu uma situação tão caótica como esta de agora.
- É impressionante como, mesmo sendo idosa, ainda tenho que passar por isso. Dizem que tem atendimento prioritário para idosos, mas nem sempre é isso, a situação se iguala aos demais: esperar, esperar e esperar pelo atendimento. E se quiser realmente conseguir uma ficha para qualquer atendimento, ainda tem que vir de madrugada correndo risco de vida, porque a violência que está na cidade nem doente escapa. É complicado ainda ter que enfrentar essa peleja para uma consulta médica - reclama.
Ana Ferreira se disse revoltada com uma situação que presenciou.
- O que eu vi pela manhã aqui foi um verdadeiro descaso humano. Uma mulher chegou sentindo dores abdominais e perguntou se havia médico, eles simplesmente disseram que não poderiam atender a paciente porque ela não era da área de abrangência do posto. Quer dizer então que é perigoso até morrer na frente destes funcionários, é negado o amparo só porque não é da área de abrangência? Cadê o acolhimento? Antes de paciente, o indivíduo é ser humano.
Segundo Ana, a paciente seria moradora do Bairro Morrinhos e não conseguiu consultar no PSF do bairro, uma vez que havia falta de médico. Ela voltou para casa sem atendimento.
A falta de aparelhos também fez com que diversos pacientes voltassem para casa sem ser atendidos. A estudante Leidmar Ribeiro da Silva, 32 anos, moradora do bairro, foi tentar fazer uma prevenção, mas não conseguiu porque o aparelho a ser usado na consulta estava quebrado.
A sacoleira Maria Solange Alves, 36 anos, moradora do bairro, espera há dois anos por uma marcação de exame ortopédico para o filho.
- A resposta é sempre a mesma: não estamos autorizando no momento, ou, a secretaria não liberou as cotas - conta.
Além de todos estes problemas, Maria Solange disse ainda que a falta de higienização no local chega a desanimar quem frequenta o posto.
- A pessoa já vai debilitada ao local, e tem ainda que se deparar com um ambiente sujo e desorganizado - conclui.