Cidade da arte e da cultura, Montes Claros, fundada por Antônio Gonçalves Figueira, sertanista atuante no período do Brasil Colonial, chega a 162 anos com população estimada pelo IBGE em 404.804 habitantes, sexta maior cidade de Minas Gerais. Terra dos imortais Cyro dos Anjos e Darcy Ribeiro, polo de uma região com mais de 2 milhões de pessoas, é centro universitário em franco crescimento, atraindo gente de todo o país, especialmente das 150 cidades situadas em sua área de abrangência.
O município foi criado pela Lei de 13 de outubro de 1831, recebendo o nome de Montes Claros de Formigas. Em 1857, possuía ainda pouco mais de 2 mil habitantes e só através da Lei 802, de 3 de julho, a Vila passou à condição de cidade, com o nome de Montes Claros.
Consolidou sua liderança regional na década de 1970, quando experimentou grande processo de industrialização, implementado a partir de incentivos financeiros e creditícios da Sudene e por ser o segundo entroncamento rodoviário do país.
Na atualidade, o Produto Interno Bruto (PIB) é o maior da microrregião, destacando-se na área de prestação de serviços. Tudo isso fez com que a cidade se tornasse foco de um intenso fluxo migratório, ou seja, cresce ano após ano e incorpora em sua cultura os saberes, os talentos dos municípios que a transformaram em centro econômico.
De portas abertas para quem chega, Montes Claros é sinônimo de hospitalidade e pluralidade e, por isso, é um pouco de cada uma da centena e meia de cidades que tem em torno de si: um tanto de São Francisco, porção de São João da Ponte, Santo Antônio do Retiro, Santa Fé de Minas, outra fração de São Francisco, São João do Paraíso, Santa Cruz de Salinas, outro tanto de São João das Missões – Montes Claros de todos os Santos há 162 anos.
Assim, o aniversário é de Montes Claros, mas a festa é de mais de 2 milhões: um mundão sem fronteiras, que tem em sua história uma linha daqui e outra de acolá, gente simples como João de Quitéria, que faz hoje 106 anos e conta em prosa o tempo que passou; Joaquina Rodrigues da Silva, que em fevereiro completou 110 anos e Judite Santos Carvalho, filha mais velha de Cula Mangabeira que reside na avenida que homenageia o pai, antigo centro de comércio da produção dos distritos de Montes Claros; e tantos outros personagens: a maior riqueza da Princesa do Norte, a pluralidade de sua gente.
João Ferreira da Cruz (foto), o“João de Quitéria”, completa hoje 106 anos. Esbanja humor ao dar rima a um tempo que poucos são capazes de traduzir com tamanha lucidez. Em seus versos, uma homenagem à cidade:
"Eu cheguei a Montes Claros, me lembrei, Senti saudades daquele tempo em que viajava com o toque da boiada
Ali no Max Min nós fazíamos pousada, pegava a tropa e arriava em altas madrugadas
Tocava naquele estradão empoeirado, vendo o galo cantar lá naquelas quebradas
Naquele tempo dormíamos em qualquer canto, mas ali na Cowan tinha uma balança da qual gado nenhum escapava
A Esplanada ainda não era loteada, ali dávamos rodeio no gado Enquanto o gado malhava, eu contava casos de vaqueiro e de vaquejada
Tocava meu berrante e o boi vinha berrando atrás, os vaqueiros me admiravam
Não era nada de mais: os animais conheciam o som do meu berrante
Quando eu chegava à cocheira, o gado logo me arrodeava
O Alto São João ainda era casa salteada
Onde é o Bretas o Santos, era só pasto para criar gado
Só tinha Santa Casa e São Lucas, onde todo mundo consultava
Não é mentira, não é papo furado
No mercado velho de Montes Claros já cozinhei muita feijoada
Falo, ainda tenho recordação: Montes Claros era carroça e carroção
Não tinha nem um palmo de asfalto, era poeira e chão
O comércio era só mamona e algodão
O transporte era feito no vagão do trem de ferro porque naquela época nem se falava em caminhão, uma ou outra jardineira, pouco automóvel
Coisa antiga, Montes Claros naquele tempo chamava-se Arraial das Formigas
Isso é conversa séria, quem conta é João de Quitéria, sou mineiro veio, nunca neguei meu natural
Conheci Rio, Santos, Bahia e São Paulo, mas Minas que é minha terra natal
Tudo tem princípio, meio e fim, já tive filho, criei neto, bisneto e tenho hoje até tataranetos, mas nada me esmorece”
(MANOEL FREITAS)
(MANOEL FREITAS)
(MANOEL FREITAS)
(LEO QUEIROZ)
(MANOEL FREITAS)
(LEO QUEIROZ)