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Segunda-Feira,22 de Dezembro

Perdi o interesse e a motivação pela vida - diz portadora do vírus HIV: com exclusividade, O Norte ouve pessoas portadoras do vírus HIV. Uma delas revela que perdeu a vontade de viver

Jornal O Norte
Publicado em 04/12/2006 às 11:14.Atualizado em 15/11/2021 às 08:45.

Samuel Nunes


Repórter


samuelnunes@onorte.net



Foi comemorado na manhã de sexta-feira, 1° de dezembro, na praça doutor Carlos, o Dia Mundial de Luta Contra a Aids. De acordo com a presidente do Grappa - Grupo de apoio, prevenção aos portadores de Aids de Montes Claros, Maria Eunice Veloso Prates, que está no seu 2º mandato, a vontade de trabalhar é muito grande, mas falta apoio dos poderes municipal, estadual e federal.



Ela conta que no que diz respeito a Aids a população se descuida a ponto de quatro pessoas por minuto serem infectadas com o vírus.



- Outra preocupação é quanto à terceira idade, faixa etária em que o número de HIV positivo tem crescido muito.



Outro ponto enfatizado por Maria Eunice é quanto à liberação sexual e o não uso do preservativo que também tem contribuído para o aumento do HIV.



PALPERARIZAÇÃO



Esta pode ser uma palavra nova para a maioria das pessoas, no entanto, quanto às pessoas que trabalham na prevenção da Aids é uma palavra bastante usual.



Maria Eunice explica que a população mais carente, que vive nas cidades interioranas tem a consciência de que o uso do preservativo é fundamental, mas que faltaria plena conscientização.



- Está comprovado que o uso da camisinha evita várias doenças, é importante que a população entenda essa mensagem - diz. 



Maria Eunice salienta que de 1989 até o mês de junho de 2006 já foram constados 143 casos de pessoas do sexo feminino com o vírus da Aids



- Do sexo masculino são 263 e em crianças o número é de 25.



Ela garante que este número pode ser maior pelo fato de o Grappa ser a única referencia e não ser informado de alguns casos. Hoje, a entidade atende não somente a cidade de Montes Claros, mas toda a região do Norte de Minas, dos vales do Jequitinhonha, Mucuri e do Sul da Bahia.



Pedindo anonimato, dois portadores do vírus conversaram com a reportagem. A seguir, trechos do que disseram sobre o assunto.



- Tenho 28 anos, sou homossexual, e tenho o vírus HIV. Fiquei sabendo que era portador um dia antes do meu aniversario, isto há mais ou menos sete anos. Nas minhas relações sexuais, tanto com o homem casado quanto com garotões sarados e bonitões, eu não me preocupava em usar camisinha. Detectei a doença através de uma pneumonia. Passei por um clinico geral e começou a surgir em minha boca o chamado sapinho. Fui encaminhado para um infectologista e em seguida fiquei internato 15 dias. Cheguei a pesar 42 kilos e fiquei muito fraco e debilitado, o meu cabelo caiu. Fiquei internato no hospital Universitário e fiz uma serie de exames. Depois de 15 dias recebi o resultado e comecei a ter delírios e febres. Depois de passado tudo isso comecei a tomar todos os dias o medicamento chamado coquetel.



EFEITOS COLATERAIS



- Com o passar dos dias, os efeitos colaterais se intensificaram, vieram vômitos, náuseas, dores de cabeça e entrei em depressão. Profunda. Eu pensava comigo mesmo: vou morrer. Hoje. É bom dizer que eu tive o apoio da minha família o tempo inteiro, mas enfrentei alguns preconceitos por parte de algumas pessoas que ficaram sabendo da minha doença. Hoje, tenho uma vida sexual ativa e estou sempre me prevenir. Agora passei a dar mais valor à minha vida.



CONTAMINADA PELO NAMORADO



- Tem exatamente três anos que contrai o vírus HIV através de uma relação sexual com o meu namorado, sem camisinha. Foi minha primeira relação sexual sem camisinha, eu tinha medo apenas de ficar grávida. Atualmente faço o curso de Normal Superior em uma faculdade aqui mesmo, em Montes Claros. Foram quatro anos de namoro. Um dia, ele foi internado com pneumonia no hospital Universitário e logo em seguida morreu. Fiquei surpresa como o meu namorado morreu tão rapidamente e de pneumonia. Os dias se passaram e ouvi uma conversa de parentes dele que ele tinha morrido vitima da Aids. Quando ouvi esta conversa entrei em desespero e fui direto para o hospital Universitário, onde fiz exames em três laboratórios. Depois de algum tempo, tive a notícia: positivo. Fiquei internada durante 30 dias, tive herbes em decorrência do vírus HIV e entrei em depressão. O preconceito ainda existe, choro muito e senti que eu iria perder o apoio da minha família, mas isto não aconteceu. Fiquei 15 dias sem dormir e pesava neste período apenas 38 kilos, diferentemente dos 52 kilos que eu pesava antes. Tive apoio irrestrito de um irmão, que é tudo para mim, e não me envolvo com mais ninguém em termos de um relacionamento mais íntimo.



TRISTEZA



- Eu me considero uma pessoa triste. Vivo chorando.  Arrependo-me profundamente por naquele dia eu não ter feito sexo com camisinha, mas agora, não tem mais jeito. Praticamente me isolei, a minha vida se resume em trabalhos voluntários, voltados para a prevenção do vírus HIV, à faculdade e à minha casa.  É muito difícil viver e conviver com a Aids. Antes eu fazia tudo 100% e hoje eu sou 50% em termos de resistência física. Não posso perder noite de sono e perdi o interesse pelas coisas que eu tinha como um sonho a conquistar, como estabilidade financeira, uma casa própria e um bom emprego. Esses foram sonhos que se foram e não voltam mais... Eu tenho vontade de morrer, porque eu não quero sofrer com essa doença. Não quero viver a fase final dessa doença, e já pensei em suicídio. Não. Aí eu me lembro da minha mãe e de uma sobrinha que eu gosto muito.

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