O Norte conversou com Leila Silveira, psicóloga, sobre o impacto que os reality shows causa em seus participantes. Mestre em educação, pós-graduada em Recursos Humanos e em Gestão de Pessoas, Leila apresenta em entrevista ao repórter Samuel Nunes, conceitos sobre programas deste gênero e seus participantes.





Por que o brasileiro gosta tanto deste tipo de programa?





Primeiro porque existe um prêmio que está muito acima do poder econômico da maioria da população, que ganha salário mínimo, o que por si só já é uma atração. Além disso, a sociedade tem necessidade do espetáculo. A pessoa se projeta naquele personagem que está na tela e se considera parte do espetáculo também, e nesta identificação ela entra no jogo da competição como se fosse um projeto próprio sendo seduzido pela curiosidade ávida de sensacionalismo e pela excitação banal, deixando de lado seu potencial de pensar e agir.





Como voltar à vida cotidiana depois de ter participado de um reality show?





Quem entra em um reality show está de alguma forma procurando o brilho, o destaque, a mídia. Ao sair será sempre lembrado como ex-participante do programa, ainda que somente na sua localidade. Por isso a maioria tenta não voltar. Aqueles que não conseguem descolar uma trajetória de continuidade podem se sentir frustrados ante a expectativa do total anonimato.





O que a psicologia diz sobre esta vontade que alguns têm de ser vistos por milhões de pessoas?





Desde os primórdios da civilização o ser humano mostra necessidade de representar cenicamente seus dramas pessoais e vicissitudes existenciais. No caso dos reality shows, as pessoas têm a oportunidade de se auto-promover, o que é um valor hoje em dia, além de alimentar suas necessidades narcisistas. No fundo, elas têm necessidade de serem admiradas, alimentar sua vaidade e obter a aprovação dos outros. A necessidade de se mostrar e aparecer, é vivenciada com a imagem, com as roupas, com o carro, com a inteligência. Vivemos um espetáculo por dia.





A pessoa de fato sai do programa com uma mentalidade diferente?





A experiência pode mudar o ser humano tanto positiva como negativamente. No caso dos reality shows os participantes são colocados em situações que exacerbam suas características conhecidas e principalmente aquelas que estão latentes. A percepção dessa vivência vai depender de cada um.





O voyerismo pode ter alguma influência nos reality shows?





Sim. De alguma forma é o que sustenta o reality show. O termo voyerismo foi criado pelos franceses e significa o ato de buscar prazer ao assistir a vida de outras pessoas. Através da invasão da privacidade de outrem, o indivíduo experimenta algo proibido, uma transgressão que por meio da sedução do espectador, mobilizam-se aspectos primitivos de seu psiquismo, fazendo com que ele se sinta narcisicamente poderoso e onipotente e se acredite dono do destino dos participantes do programa.