Ô ABRE ALAS.......

Jornal O Norte
Publicado em 05/02/2008 às 08:47.Atualizado em 15/11/2021 às 07:24.

Dener Versiani Kroger


Bacharel em Direito e sócio honorário da Aclécia



Predominantemente, a origem do carnaval brasileiro é totalmente européia. Data do início da colonização. Uma herança do entrudo português e das mascaradas italianas.



Deixemos a história de lado. É por demais complexa.



Dando um salto milenar, iremos aportar pelas ruas e avenidas centrais da cidade de Montes Claros, locais esses, por onde as escolas desfilavam  esbanjando suas  coreografias.



Lembro-me de que eu ficava sempre ali pelas bandas do Bar Cristal, êta boteco famoso, a esperar pela passagem das mesmas e, o melhor; a torcer pela minha escola preferida. A passagem das escolas sempre contagiava as pessoas e, estas se amontoavam e se contorciam em meio a uma chuva de serpentinas e confetes, atirados de cima do segundo-andares dos prédios.



As agremiações quase sempre desciam pela Rua Dr Santos, vindas de lá das bandas da Praça Cel. Ribeiro e, rumavam para a Avenida Cel. Prates e para a Avenida Sanitária, nesta, quase sempre acontecia a dispersão.



Vários Bairros de nossa cidade tinham suas escolas, desfilavam: Academia da Vila – esta em determinada época homenageou Edgar Pereira com o samba  enredo ¨Senhor do Ouro Branco” - . Leguedê, Vanguarda do Samba, Unidos Santos Reis e  Mocidade Alegre do Roxo Verde.



A alegria das apresentações momescas se completava com a participação dos, e não menos importante, blocos: Cara de Pau, Em Cima da Hora, do Saci, Feijão Maravilha e o bloco caricato Biô e Salomé. Ah... Não se pode deixar de mencionar o irreverente e furão Bloco do Bosta.



E a coisa ia até  meados do raiar do dia.



Bem, e as marchinhas? Essas, para a maioria, são as que davam o tom maior à festa momesca, apesar do carnaval sempre ter sido uma festa tipicamente de rua, reinava àquela época os bailes de salão com suas marchinhas que, com letras simples, alegres e cheia de malícias, sempre procurava retratar situações atemporais como, “Lata d’água, Contavam casos de amor “Pierrot Apaixonado”. Propagavam um divertido ufanismo “Yes, nós temos bananas” e, faziam declarações às mulatas brasileiras em  “O teu cabelo não nega”. Porém, a mãe de todas as marchinhas é “Abre Alas” de Chiquinha Gonzaga.  Todas estas eram sempre  tocadas sob um acorde estridente dos metais das  bandas, composta por Bené, Nelson e João, dentre outros. Que promoviam bales diurnos na boite da praça de esportes ou, no Automóvel Clube com o tradicional baile noturno, não se pode esquecer ainda o Clube Montes Claros.  Uma loucura!



Alguns pares ficavam completamente alucinados em meio a tanta música, enquanto outros, não sabem por que, se portavam como zumbis, andando pra lá e pra cá. Talvez estivessem assim se comportando para atrair a atenção de uma forma bastante diferenciada, Afinal carnaval sempre fez o jogo do paradoxo, tudo era  carnaval.



No meio do salão, as figuras, Colombina e Arlequim; estes, todos espalhafatosos, eram sempre os destaques, juntamente com o Pierrô, o apaixonado.  De maior reverência e consideração era a figura daquele que personifica o carnaval brasileiro, o MOMO.



A cidade cresceu, dizem que se “civilizou”, dispersou-se, tornou-se violenta, perigosa e com muita gente desconhecida, aos Montes, tão diferente daquela que conheci, quando se podia dormir com as janelas abertas em épocas de calor e, quase sempre a porta da rua ficava encostada, a espera de que eu chegasse para cerrá-la.



É natural que o carnaval também fosse diferente dos carnavais atuais.



O tempo, este algoz, se encarregou de desvirtuar a festa, tirar-lhe a pureza nativa e brejeira (dedico esta frase a Antonio Dias). A violência urbana a tirou de muitas ruas, e o poder aquisitivo maior a confinou de forma meio aburguesada em sambódromos carnamontescos!!!! Coisa de gente miúda..



Até mesmo os bailes de salão deixaram de ser locais de encontro de famílias e flertes, discretos e ingênuos, para se transformarem em palco de licenciosidade e sensualidade vulgar, enfim, num ringue de “vale-tudo”, - via de regra, resguarde-se as mínimas exceções -. Para piorar, as fantasias que eram queimadas na Quarta-Feira de Cinzas, extrapolaram o reinado de Momo. Hoje, as “tribos”, incorporaram suas fantasias grotescas ao cotidiano: trogloditas, andróginos, zumbis...



O ridículo virou moda, tomou as ruas e se leva a sério... Por que nosso carnaval se perdeu?



Cabe aqui esta crítica, pois, o Norte do país, além de manter a tradição de cantar e dançar nas ruas, ainda a expande. Dá para tentar fazer o mesmo ou quá?

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