
“Praça murada? Nunca vi isso. Tem que ser aberta. O verde é bom pra gente. Tem que consertar e devolver à população”. Essa é a avaliação do ambulante José Anacleto e de diversos moradores de Montes Claros que se indignaram ao ver o muro subindo, ganhando espaço e escondendo a Praça de Esportes, no Centro da cidade.
A construção do paredão, como o prefeito havia anunciado e O NORTE mostrado em agosto, está sendo cumprida. A obra está orçada em R$ 229 mil. A ideia é cercar toda a praça – considerada um pulmão na área central do município –, que ocupa o quarteirão formado pelas avenidas Oswaldo Cruz, Arthur Bernardes, Padre Chico e Geraldo Athayde.
Inaugurado em 1942, o Montes Claros Tênis Clube, é um conjunto esportivo localizado na área mais nobre da cidade. Celeiro de atletas, a praça já sediou competições esportivas nacionais. Até 2016, o local abrigava projetos esportivos de cunho social e atendia a crianças, jovens e idosos.
O levantamento do muro é apontado por moradores como uma atitude arbitrária e inadequada do prefeito Humberto Souto. Segundo o secretário de Infraestrutura e Planejamento Urbano, Guilherme Guimarães, o muro terá três metros de altura.
“Quanto a maneira de vedação escolhida para o local, nós não temos interferência. Apenas executamos a obra que é determinada pela Secretaria de Esportes”, declarou o secretário.
Igor Dias, gestor da pasta de Esportes, não respondeu às ligações da reportagem. O seu substituto também não foi encontrado para falar sobre o assunto. No local da obra, um engenheiro que estava a serviço da prefeitura disse que não poderia dar declarações.
INDIGNAÇÃO
A professora Maristela Soares, que coordenou os programas esportivos na praça, se revoltou com a situação. “Muitas vezes, estávamos trabalhando e as pessoas idosas, com problema na coluna, passavam pela praça e nos chamavam pela grade pedindo informações sobre como participar dos programas. Era tudo gratuito. Quantas crianças carentes conseguimos resgatar para o esporte e tirar das ruas? É lamentável fechar o único verde que a cidade tem. Para que tirar a visibilidade da população? Agora é que vai ser invadido, porque ninguém vai saber o que tem do outro lado. Cadê a transparência que eles tanto pregam? Para que esconder a Praça de Esportes?”, questiona.
O professor de educação física Georgino Jorge de Souza Neto chegou a participar de audiência pública sobre o destino da área recentemente. Para ele, a população deveria participar de maneira mais direta de decisões que afetam a cidade.
“Falta um diálogo mais direto com a população em tomadas de decisões importantes, como murar a praça. Além do diálogo, penso que é absurdamente falho o canal de comunicação da prefeitura, que não explica as ações do Executivo”, disse Gino.
Para o aposentado Túlio Fróes, a atitude do prefeito é inaceitável. “O dinheiro que o prefeito vai gastar para colocar esse muro deveria consertar a calçada, que está difícil para passar. Isso é uma praça pública. Ele já fez estacionamento de carro e moto para angariar dinheiro. Agora, vai colocar muro. Mas para onde vai esse dinheiro? Porque não conserta o que está errado?”, pondera Túlio.
O vereador Daniel Dias promete abordar o assunto na reunião da Câmara hoje. “A ideia é que ali fosse criado um Centro de Referência da Juventude. Além de ter vontade política, a Secretaria de Esportes precisa cumprir o seu papel. A vedação é inadequada. Poderia ser feita com telas, como no Parque Guimarães Rosa e Caic do Maracanã. Por ser um espaço verde, não deveria ser fechado”, argumenta.