MOC só tem um abrigo para acolher moradores de rua

​Com a previsão de frio severo nesta semana, devem faltar vagas para receber essa parcela da população, que depende da solidariedade alheia

Da Redação*
Publicado em 19/05/2022 às 10:43.
Joaquim Francisco vive na rodoviária de Montes Claros há três anos: “fazer o que né, tem os cobertores e, pro resto, Deus abençoa a gente”, diz sobre o frio
 (larissa durães)

Joaquim Francisco vive na rodoviária de Montes Claros há três anos: “fazer o que né, tem os cobertores e, pro resto, Deus abençoa a gente”, diz sobre o frio (larissa durães)

A onda de frio chegou avassaladora em Minas Gerais e não deixou o Norte de Minas de fora. Em Montes Claros, o tradicional calorão deu lugar a um dia frio, com ventos que reduziam ainda mais a sensação térmica. Pelas ruas, moradores com agasalhos mostravam que a rotina mudou – mínima foi de 17 graus nesta quarta-feira.

E a previsão é de temperaturas ainda mais baixas a partir de hoje, com termômetros marcando 10 graus. Situação que expõe uma parcela da população a condições desumanas: as pessoas em situação de rua são as que mais sofrem nesse período.

Em Montes Claros, apenas um abrigo público e três de instituições filantrópicas funcionam para receber esses moradores, principalmente no período de frio. O município não tem um levantamento preciso sobre o número de pessoas que vivem nas ruas, já que esse contingente oscila bastante.

“Não consigo quantificar o número exato de moradores de rua em Montes Claros, mas a gente percebe que tem aumentado”, afirma o coordenador do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) e da Abordagem Social, Greisson Murlone Lopes dos Reis. Ele ressalta que a rotatividade também é muito grande, com Montes Claros servindo de passagem para muitos deles.

Quem conhece essa realidade migratória é Pedro Ivo Ferreira Pena, de 35 anos, que chegou em Montes Claros à procura de abrigo e alimento. “Sou de Concorde do Mucuri, próximo a Teófilo Otoni, e vim parar em Montes Claros porque estou me revezando nos abrigos, já que eles deixam a gente ficar por pouco tempo. E estou conversando com a assistência daqui para ver se consigo uma vaga permanente”, explica.

Pedro conta que antes de morar nas ruas e nos abrigos ele pagava aluguel, o que se tornou impossível depois que perdeu o emprego. “Como fiquei desempregado, não tinha como pagar aluguel. Tive que ir pra rua. Procurei ajuda com meus familiares, mas ajudaram muito pouco e não consegui voltar a trabalhar”, lamenta.

Com a chegada do frio, Pedro diz que ainda está tentando uma vaga no albergue de Montes Claros. “Se não conseguir, não sei como será pro inverno. Acho que vou ter que procurar outro albergue em outra cidade para não ficar no frio”, diz.

O Abrigo Institucional Sagrado Coração de Jesus – único de Montes Claros onde uma pessoa em situação de rua pode permanecer por 24 horas por três meses – possui 50 vagas, mas está com 32 delas ocupadas.

A coordenadora do espaço, Lilia Veloso Gusmão Maia, diz que ainda não houve um grande aumento na demanda por causa do frio. “Mas se as temperaturas continuarem a cair, deve aumentar”, acredita. No local os acolhidos podem ficar por 24 horas, recebem refeições e podem tomar banho.
 
FENÔMENO
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) alerta que a onda de frio que já atinge o Sul e centro-sul do país desde terça-feira (17) deve permanecer até o fim de semana, provocando quedas de temperatura superiores a 5 graus, em média, também nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.

O frio já está afetando regiões do Goiás, Mato Grosso, Distrito Federal, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, chegando até o sul de Tocantins. De acordo com o Inmet, durante a madrugada de ontem foram registradas na região Sul temperaturas mínimas de -2,5 graus em Bom Jardim da Serra (SC), 0 grau em São José dos Ausentes (RS), 1,7 grau em Cambará do Sul (RS) e 2,6 graus em Vacaria (RS).

Na região Sudeste, as temperaturas caíram para -0,1 grau em Campos do Jordão (SP), 1,4 grau no Pico do Couto (RJ), 2,1 graus em Itapira (SP), 3,4 graus em Maria da Fé (MG) e 4 graus em Nova Friburgo (RJ).

Nesta quarta-feira, Belo Horizonte registrou recorde de frio, com 6,7 graus, o menor desde 1961.
 
GEADA
O Inmet emitiu um aviso de geada, que pode afetar as plantações com frios de até 3 graus em regiões do Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, São Paulo e sul fluminense.

Improviso na rodoviária
Gilvando Sousa Rocha Chaves, de 38 anos, passa o dia no abrigo, onde se alimenta, mas à noite vai para a rodoviária de Montes Claros. “O abrigo está sendo uma melhora de vida porque eu não estou passando o dia na rua e está bem melhor a minha situação. Mas à noite tenho que me embrulhar com cobertores, porque estou dormindo na rodoviária. No inverno vai ficar ainda pior, vou precisar de mais cobertores e só tenho dois”, diz.

A rodoviária vem sendo a casa de Joaquim Francisco Vargas, de 60 anos, há três anos. “Sou de São Francisco, saí de lá porque não tem emprego, aqui sou carregador de bagagem”, conta. Seu Joaquim diz que prefere morar na rodoviária que no abrigo. “As igrejas dão comida, ganho algo levando as bagagens e ajudando na lanchonete aqui dentro, de vez em quando”. Para aguentar o frio, já que a rodoviária é aberta, ele conta com os cobertores e, segundo ele, “ajuda divina”. “Fazer o que né, tem os cobertores e, pro resto, Deus abençoa a gente”, diz sorrindo.

*Com Agência Brasil e Larissa Durães

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