Samuel Nunes
Repórter
samuelnunes@onorte.net
O Norte inicia hoje uma série de reportagens com os sobreviventes do acidente com o ônibus da empresa Santo Antônio que saiu de Brasília-DF com destino a Itacarambi, perdeu o controle em uma curva na BR 365, km 06, próximo a Montes Claros, tombou e bateu de frente com uma carreta de bolachas, de Porto Alegre que saiu da cidade de Simões Filho, na Bahia, em direção ao Rio Grande do Sul.
Este acidente chocou a cidade e toda a região norte de Minas e foi destaque nos principais veículos de comunicação do estado e do Brasil.
Para que o leitor possa se situar, o acidente aconteceu na madrugada do dia 27 de maio deste ano e trouxe dor, lágrimas e desespero a várias famílias de Montes Claros e cidades vizinhas.
O resultado foi à morte de 18 pessoas e 22 ficaram feridas dentre os sobreviventes. A reportagem de O Norte entrevistou naquela ocasião, ainda no hospital, Joisilene Gonçalves Rocha Moreira, que fraturou um dos braços e teve hematomas pelo corpo, mas que hoje já está totalmente recuperada. Ela revela que foi a primeira pessoa a ser retirada das ferragens do ônibus e a primeira a chegar ao hospital para ser atendida
- Vou dar mais valor à vida por acreditar que Deus me deu uma segunda chance e vou ter que procurar fazer sempre o melhor - disse ela, dias depois do acidente. No entanto, sua filha Karen Andressa ainda continuou no hospital, pois teve uma lesão cerebral.
PERÍCIA TÉCNICA
A perícia técnica da polícia civil de Montes Claros, responsável pelas investigações, apontou que a causa do acidente foi o excesso de velocidade do ônibus. O laudo apontou também que o tacógrafo do ônibus parou às 5h15min e registrando antes do acidente uma velocidade de 80 a 85 Km/h por hora, em um local que veículos de grande porte têm permissão para trafegar em velocidade máxima de 20 Km/h, usando inclusive o freio a motor, uma vez que o Viaduto do Carrapato, local onde aconteceu o acidente, é em uma curva fechada.
MOMENTO DO ACIDENTE
Passados praticamente três meses da tragédia O Norte entrevistou na tarde de ontem, quinta-feira, uma vez mais, Joisilene Gonçalves que estava na companhia da sua filha Karen Andressa Gonçalves, de 4 anos no ônibus na fatídica manhã de 27 de maio.
Com apoio da família e amigos, Karen recebe medicamentos que aliviam as dores
- Conversei com o motorista na cidade de Pirapora, falei para ele me deixar no semáforo do bairro Major Prates. Ele me disse que não conhecia esse local, pois era novo na empresa., que eu deveria avisá-lo quando estivesse próximo ao local. Ele vinha em alta velocidade e foi tentar fazer uma ultrapassagem e o caminhão veio em sua direção. Se esse caminhão não parasse teria morrido todo mundo, pois foi o ônibus que bateu no caminhão. Se tivesse acontecido o contrário teríamos caído na ribanceira e não teria sobrado ninguém para contar a história. Apesar da morte do motorista do caminhão, ele salvou muitas vidas por ter parado na hora da batida – relembra.
Com emoção e gratidão a Deus por ter saído viva do acidente, Joisilene traduz em palavras os minutos que antecederam o acidente.
- Cheguei a ver as luzes de Montes Claros, calcei meu tênis consertei a jaqueta da minha filha, e em questão de segundos tudo aconteceu. No final, eu estava entre duas poltronas e minha filha no corredor, com a cabeça presa à outra pessoa que eu não sei se morreu ou se salvou... Graças a Deus, eu estava do lado contrário do motorista - conta
DIFICULDADES
Depois de relatar o momento que ela considera como o mais difícil em sua vida, Joisilene Gonçalves diz que tem gastado o que não pode com remédios para sua filha que teve que se submeter a duas tomografias quando ainda estava no hospital Santa Casa.
(fotos: Wilson Medeiros)
- Depois que a minha filha fez este exame o neurologista receitou um medicamento que tem como finalidade não deixar a minha filha com confusões mentais. Alguns parentes me ajudaram, mas chega uma hora que não dá mais - diz.
INDIGNAÇÃO
Dá para perceber como Karen Andressa é querida pela família e como se torna o centro das atenções dado seu jeito comunicativo e sua inteligência. Marcos Marcelino Moreira, pai de Karen fala de sua revolta com o desprezo que a empresa Santo Antônio tem tido para com sua família.
- Karen ficou 11 dias internada no hospital. Como as tomografias detectaram que ela está com um coágulo no cérebro, temos que dar continuidade ao tratamento dela, mas, a empresa até agora não deu nenhum tipo de assistência para nós, isso é triste e ao mesmo tempo é um absurdo - desabafa. Marcos Marcelino que conta ainda que foi preciso fazer um acerto na empresa na qual ele trabalhava em Brasília, para que viesse de mudança para Montes Claros. Demonstrando gratidão para com a família da sua esposa que os acolheu ele diz que neste momento é preciso que a criança tenha o apoio de toda a família por isso ele resolveu se mudar.
APOIO
Morando na avenida Barão de Campinas bairro São Geraldo, família da garotinha Karen Andressa vive uma situação de angústia e aflição e, ao mesmo tempo, alegria, por saber que mãe e filha escaparam da morte.
Joisilene Gonçalves e sua filha Karen Andressa, sobreviventes do acidente
- Gosto de brincar de boneca e ouvir música - diz Andressa que tem estampado no rosto um sorriso inocente de não saber a gravidade do seu problema, e de pureza e simplicidade peculiares às crianças.
Em um momento como este é fundamental o apoio da família e dos amigos. Olavo Leite mora próximo à casa de Joisilene e diz que, como os demais, espera que providências sejam tomadas por parte da empresa para ajudar a família. Olavo conta que sempre que pode ajudo na compra de remédios e injeções para Karen,
- Este foi um gesto de amor e carinho que pude dar a uma criança indefesa e que precisa seguir o curso normal da sua vida – diz.
Nair Gonçalves é tia de Joisilene e afirma que antes do acidente a garotinha Karen era calma e paciente, e que depois o quadro mudou, ficando com um gênio forte, agressivo em alguns momentos e, sobretudo impaciente. Ela conta ainda que em alguns momentos à noite é comum ela sentir dores de cabeça, que fica quente como se estivesse com febre.
Eloísa Leite é avó de Karen e também está chocada e indignada com a empresa de ônibus que não prestado nenhum tipo de assistência para a família, nem mesmo um telefonem.
- É triste para mim como avó ver minha netinha neste estado. Aparentemente ela está normal, só tem uns arranhões que até já cicatrizaram, mas é bom lembrar que nós da família não temos condições de pagar o tratamento - desabafa.
TRATAMENTO
De acordo com Joisilene Gonçalves, atualmente o exame de tomografia está no valor de R$ 350 e a consulta particular em torno de R$ 150. De acordo com especialistas na área a tomografia é um exame mais completo que uma simples radiografia, pois produz imagens por computador que permitem ao médico detectar alterações no interior do corpo, no caso da garotinha Karen Andressa, o cérebro. É um dos mais perfeitos na área do diagnóstico por imagem, além de produzir pequena quantidade de radiação e ser indolor.
Joisilene Gonçalves alega que não tem condições de arcar com os valores da consulta e do exame, e faz um apelo para que alguém interceda a seu favor, pois sua luta é contra o tempo.
- Já pensei em vender algum pertence, mas não vai adiantar muito já que o tratamento é longo. Aproveito este espaço para fazer um apelo à comunidade em geral que nos ajude, ajude minha filha no tratamento, por favor... Já que a empresa de ônibus não faz nada pela nossa filha espero que alguém nos ajude - conclui.
O telefone para quem deseja ajudar a garotinha Karen Andressa é: 3212-5193 ou ainda 3216-1588.
SEM RESPOSTA
A reportagem de O Norte tentou durante toda manhã de ontem, falar via telefone com algum representante da empresa de ônibus Santo Antônio que tem sede em Brasília – DF sobre o fato, no entanto não obteve resposta. A informação é que a pessoa responsável para responder sobre o assunto é o advogado Bruno Rodrigues. O Norte tentou falar no escritório do advogado, mas até o fechamento desta edição não havia conseguido o intento.