
A avenida Manoel Caribé Filho, às margens do córrego Vargem Grande, no bairro Canelas II, nem foi entregue à população e já apresenta um grande problema: está ladeada pelo lixão a céu aberto que se formou no bairro e que já foi objeto de várias matérias publicadas por O NORTE em função do rápido crescimento das montanhas de resíduos.
E a solução para esse problema parece bem longe de aparecer. A Prefeitura de Montes Claros joga a responsabilidade pelo cenário insalubre nos carroceiros e caminhoneiros que despejam ali entulhos, móveis velhos, garrafas de bebidas e pneus. E alega que esse material deveria ser levado para o aterro sanitário.
No entanto, o local fica ao longo da BR-365, e os carroceiros não podem circular em rodovias. Enquanto não se chega a um consenso, o lixo vai se acumulando e formando moldura da avenida que custou R$ 10,5 milhões para ser construída e deveria ter sido entregue em maio deste ano.
A situação foi debatida na Câmara de Vereadores nesta semana. “A população do Canelas II quer a retirada do ponto de descarte no fundo da rodoviária, vergonhoso para uma cidade do porte de Montes Claros”, criticou o vereador Fábio Neves (PSB), aproveitando a presença do secretário de Infraestrutura e Serviços Urbanos, Vinícius Versiani.
O parlamentar ressaltou que o município, após várias críticas dirigidas à situação no bairro, instalou no lixão barreiras de concreto, impedindo o acesso das carroças e caminhões. Com isso, “os resíduos estão sendo descartados na via pública mesmo”.
HISTÓRICO
O lixão começou a se formar depois que a prefeitura retirou os cascos (caçambas) nos quais os carroceiros descartavam o lixo e o entulho, vindos sobretudo da zona Sul da cidade.
As montanhas de resíduos, muitas vezes queimadas ao serem descartadas, são um grave problema de saúde pública para uma das regiões de maior densidade populacional de Montes Claros, pois podem ser focos do mosquito da dengue, além de importante fonte de poluição do ar, do solo e do lençol freático.
De acordo com um vigilante da prefeitura que trabalha na área, o Canelas II “é o lugar da cidade que recebe mais lixo e entulho”, o que obriga os carroceiros a fazerem o descarte na margem direita da nova avenida Manoel Caribé Filho.
O secretário Vinícius Versiani disse que as críticas aos descartes às margens da avenida, no fundo do Montes Claros Shopping, “precisam ser direcionadas aos verdadeiros responsáveis, a quem gera aquele lixão, ou seja, além dos carroceiros, os caminhoneiros”. Segundo ele, o material deveria ser levado exclusivamente para o aterro sanitário.
Carroceiro há 20 anos, Antônio César de Jesus ressalta que a orientação da prefeitura está completamente equivocada. Ele lembra que a Polícia Rodoviária não permite nem mesmo que carretinhas circulem na BR, muito menos carroças. “Se 20 carroças pegarem a rodovia todos os dias, vai morrer muita gente”, analisa.
SAIBA MAIS
Viagem final em caminhão
Para o carroceiro Antônio Jocélio Fonseca, com 18 anos de profissão, a solução seria a Secretaria de Serviços Urbanos e Infraestrutura determinar novo local de descarte e, a partir daí, recolher todo o lixo e entulho e levar em caminhões para o aterro sanitário. “Se seguirmos a determinação da administração, ficaremos de pés e mãos quebrados. Além de ser impossível subir a rampa do lixão, ninguém consegue ir e voltar cobrando R$ 15 por carreto”.