Anny Muriel
Repórter
De volta às atividades normais, depois de uma longa greve, o hospital universitário continua congestionado. Há macas com pacientes até mesmo nos corredores, com pessoas sendo medicadas ali mesmo. São pacientes de Montes Claros, de todo o Norte de Minas e do Sul da Bahia.
A dona de casa Zilma Rodrigues da Silva, 39 anos, veio da Zona Rural de Capitão Enéas tentar uma consulta para o seu filho, Matheus Rodrigues da Silva, de dois anos e oito meses.
- Hoje, às 7h da manhã, passei primeiro pelo hospital Alpheu de Quadros, mas me disseram que não tinha pediatra pela manhã, só à noite. Daí, vim direto para o Universitário e até agora estou aguardando para fazer pelo menos a ficha do meu filho, que desde domingo está com febre alta, fazendo vômito e não está se alimentando. De vez em quando é que bebe água. E com isso ele está muito fraco. Espero não perder viagem, vou esperar até ser atendida. Voltar com ele sem consultar é que não vou - disse a mãe, aflita.
Zilma chegou ao hospital Universitário por volta das 9h da manhã e, até às 14h20, seu filho não havia passado sequer pela triagem. Ela foi informada de que o atendimento estaria suspenso por algum tempo e mais tarde voltaria a funcionar.
- O tempo que a gente perde aqui não é brincadeira. Eu mesma estou há cinco horas esperando pelo menos fazer a ficha do meu filho e até agora nada. Isso é uma falta de respeito com o ser humano, um serviço precário deste é uma vergonha e uma tristeza ter que passar por isso, ainda mais com criança. Antes falar que não vai dar para atender a gente, ou então que colocassem mais médicos; agora, o jeito é esperar pelos menos voltar a funcionar o sistema, como eles mesmos dizem - desabafou a dona de casa.
Revolta também por parte dos pais de Camila Roberta Ribeiro de Souza. Ela tem seis anos e é portadora da síndrome de down. A menor, que estava na escola, teve uma crise alérgica que a deixou toda empolada. Seus pais levaram-na à unidade de saúde mais próxima, no bairro onde moram, mas, ao chegar ao centro de saúde do Bairro Maracanã, não conseguiram ser atendidos, haja vista que não havia médico. De lá, se dirigiram ao HU, onde a espera pelo atendimento já durava uma hora.
- A saúde na cidade está um caos, está difícil demais a gente conseguir uma consulta, tanto no posto de saúde como nos hospitais. Eu moro no Bairro Maracanã e quando procura um pediatra no posto a gente não encontra, quando recorre ao hospital é uma demora sem fim, ainda mais no caso de minha filha que é especial e toma remédio controlado. É castigante ter que ir em busca de consulta médica aqui em Montes Claros. Está uma coisa horrorosa, um verdadeiro descaso com a gente, que precisa dos serviços do SUS - afirmou o pedreiro Mário de Souza. Logo após a entrevista, Camila foi chamada para o processo de triagem.
A balconista Nilzete Maria Nunes conta a maratona em busca de uma consulta. Ela percorreu três unidades de saúde.
- Há dois dias, estou atrás de consultas em três hospitais da cidade. Na segunda-feira, fui ás 6h para retirar uma ficha para meu filho com pediatra, no posto de saúde do Bairro São Judas Tadeu, esperei até 9h30. Foi quando uma funcionária informou que a pediatra não iria comparecer, alegando que a demora pelo aviso era porque não havia telefone fixo no posto, o que é um absurdo, esperar por três horas perdendo tempo, deixando nossos afazeres. Depois, vim aqui no Universitário e aguardei por mais uma hora, e neste tempo não fizeram nem a ficha do meu filho, que estava com febre e com renite alérgica. Me disseram que tinha pediatra, mas não teria nem noção de em quanto tempo poderia fazer a ficha dele para ser atendido. Cansada de tanto esperar, resolvi ir ao hospital Alpheu de Quadros, mais uma vez sem sucesso, pois na parte da tarde não tinha pediatra, somente à noite. Quer dizer, desloquei do Bairro Jardim São Geraldo e não consegui uma consulta sequer. É lamentável a situação. Por que não aumentar o número de profissionais, gente? - questionou a balconista, que ainda esperava para ser atendida.
Segundo a gerente do setor de urgência e emergência do pronto-socorro do HU, Kelly Cristina Alencar Soares, o número de médicos é insuficiente diante da grande demanda é grande.
- A maior demanda aqui, por exemplo, é da parte clínica, e isso leva tempo mesmo. Temos apenas um profissional para atender Montes Claros e toda região do Norte de Minas. Mesmo aqui sendo atendimento de urgência e emergência, as pessoas sempre acabam vindo à procura de consultas, e, como não podemos negar atendimento, independente da superlotação, a gente acolhe e atende a todos. Mas é preciso que os usuários tenham paciência, porque a demanda realmente é grande - afirma a gerente.
O hospital universitário é referência em atendimento a vítimas de mordidas de animais peçonhentos, agressão física, soropositivo, TBC e doenças infectocontagiosas.